No MS: Indígenas denunciam discriminação em escola municipal durante Campanha Guarani
Práticas de discriminação, constrangimento e maltrato de crianças indígenas foram denunciadas na aldeia Guyraroka, município de Caarapó, Mato Grosso do Sul, pelas mães kaiowa-Guarani que enviam seus filhos para a escola municipal de Cristalina, pequena cidade situada alguns quilômetros da comunidade. A situação foi denunciada durante um encontro organizado pela comunidade sobre a campanha “Povo Guarani, Grande Povo”.
Uma mãe chorou quando relatava as situações que seus filhos passam “na escola dos brancos”. As discriminações acontecem desde o momento quando se pega o ônibus escolar, até chegar à escola, onde as crianças indígenas sofrem constrangimentos de seus colegas não índios e dos próprios professores quando falam sua língua, o guarani. Em relação ao transporte, disseram que muitas vezes acontece de o ônibus escolar não esperar as crianças que não estão no ponto, mesmo quando o motorista percebe que tem alunos que vão correndo atrás do transporte municipal.
Só o fato de saber que seus filhos vão numa escola fora da aldeia numa cidade de não índios já representa uma grande preocupação para as mães, segundo foi relatado durante o encontro. A situação se agrava quando as crianças chegam em suas casas contando experiências vividas por elas e são quase sempre relacionadas com aspectos de suas condições de indígenas e sua própria cultura.
Com lágrimas nos olhos também uma mãe contou como seu próprio filho recebeu tratamento preconceituoso e que esta situação se repete com quase todas as crianças que vão à escola municipal. Durante a atividade da Campanha Guarani, a comunidade reclamou sobre a necessidade de contar com uma escola e posto de saúde dentro da aldeia. E querem que seus filhos tenham um professor indígena que os eduque em sua própria língua e preceitos culturais, como acontece na aldeia Teykue, dentro do mesmo município.
O maior casa de reza
Na aldeia Guyraroka está sendo construída, atualmente, uma casa de reza tradicional (oga pysy – casa de reza), com fundos do Ministério da Cultura. Ela será o maior centro de referência cultural e da memória Kaiowa-Guarani no MS. No lugar seria realizado no próximo ano um encontro continental do povo guarani. Porém, existe a possibilidade que o mesmo encontro seja levado para outro Estado. A causa seria a pressão política dos fazendeiros que criam um clima de tensão e violência em Mato Grosso do Sul para evitar a demarcação de terras indígenas.
O fato da construção de um importante espaço cultural e religioso dentro da comunidade motiva às famílias de Guyraroka a continuar a luta pela terra, porém, o que mais lhes preocupa, atualmente, é a grande necessidade de desenvolver a educação de seus filhos dentro da aldeia, para preservar os valores culturais e religiosos, profundamente ligados a terra.
A comunidade tem 28 famílias vivendo dentro de 58 hectares. O território tradicional do grupo foi identificado no ano 2000 e é de 11.440 hectares. A comunidade espera a demarcação dessas terras que hoje está nas mãos de 22 proprietários, sendo um deles o deputado José Teixeira.
A campanha “Povo Guarani, Grande Povo”, é uma ferramenta de luta do povo Kaiowa-Guarani e dos outros povos guarani espalhados pelo continente sul americano e visa denunciar a situação de injustiça que afeta esse povo e fortalecer a luta pelos seus direitos.
Fonte: CIMI/MS