Cantídio Taywí Tapirapé encantou
Uso a expressão utilizada pelo povo Xukuru, referindo-se àqueles que, deixando esta vida, continuam entre nós. Os Espíritos (Encantados) são e continuam também sendo nossa força, acompanhando-nos nas lutas.
Taywi, conhecido mesmo entre os Tapirapé como Cantídio (alguns até pronunciavam Cantidi), sempre me foi muito especial. Primeiro por já ter visto referências sobre ele no livro publicado sobre a presença das Irmãzinhas entre os Tapirapé, já que foi um dos que deram muito apoio à elas. Depois por ter sido um dos primeiros dos mais velhos com quem conversei, quando da primeira visita aos Tapirapé, em 2003.
Sempre sereno, embora com uma personalidade bem marcante, suas histórias e mitos de seu povo poderiam ser ouvidas a qualquer hora. Sempre disposto.
Durante o período de pesquisas a serem desenvolvidas pelos cursistas Tapirapé do Ensino Médio, Taywi foi uma das bibliotecas vivas muito consultadas. Mesmo com sua impaciência de ter que contar tantas vezes a mesma história, o que é compreensível…
Lembro-me que na primeira aula de Ciências Sociais, em que sempre se começa partindo da própria história do Povo, Taywí foi o Professor que fez a Aula Inaugural, contando-nos o Mito de Origem e trazendo muitos elementos desconhecidos por muitos dos cursistas.
De seu sorriso semi-dourado, foca-nos a lembrança e a certeza de que ele cumpriu, certamente, seu papel humano entre nós.
De seu conhecimento, da agricultura, da cultura e do conviver Tapirapé, ficam além das lembranças, as gravações e tantas transcrições feitas.
Ainda ontem, por um acaso, perto das 23 horas, eu revia um vídeo de nossa viagem à Terra Indígena Urubu Branco. No vídeo, Taywi se aprontou, com cocar e colares, em sua elegância. Belo, em todos os sentidos.
Pareá, Taywi. Aket Kato, mas nunca nos deixe!
Gilberto Vieira dos Santos