22/09/2009

III Simpósio Amazônia: desenvolvimento sustentável e mudanças climáticas

O meio ambiente, desenvolvimento e a quebra do paradigma produtivo.


 O tema debatido nesta mesa nos leva aos grandes questionamentos em relação à Amazônia. E para tratar deste assunto nada mais apropriado do que mergulhar nesta rica floresta.


Os desafios que apresentados nos levam a responder os grandes gritos, clamores dos povos indígenas e populações tradicionais; o grito da terra; o grito das águas, o grito da floresta e o grito das riquezas minerais. Temos que ter presente que a terra é que tem a verdade sobre a pessoa humana. A história do “povo” está escrita no livro da terra.


Nossa Amazônia é a natureza presente do “Criador”, Amazônia é caminho da vida para todos. O desenvolvimento da Amazônia sempre foi pensado de fora, e não foi pensado pelo povo desta terra, o amazônida.


Hoje a Amazônia está se convertendo na última fronteira de exploração dos recursos naturais.


E os Povos indígenas da Amazônia, os povos livres, fogem do terror desenvolvimentista.  No início do século passado mais de 80.000 indígenas habitavam Rondônia. No inicio deste século aproximadamente 11.000 habitam esta terra.


Sentimos que os problemas das demais partes do Brasil estão sendo empurrados para a Amazônia. Agora para tirar o Brasil de um déficit energético e aumentar as exportações o governo abre a Amazônia para as hidroelétricas (privatização das águas), fecha os olhos ao desmatamento, faz concecções de madeiras em florestas públicas, faz de conta que os povos indígenas e populações tradicionais nem existem, libera as riquezas minerais. Enfim, faz tudo por um punhado de “dólares”. Onde ficam os cincos povos Indígenas livres ou em situação de isolamento e risco que estão na área de abrangência do complexo hidroelétrico do Rio Madeira? Preservar a terra destes povos é direito constitucional. Porém, a devastação e o desenvolvimento que servem a poucos, ignoram estes direitos. 


Sempre na pauta das discussões está o equívoco de uma civilização que contrapõe desenvolvimento e natureza, gerando com isso um desequilíbrio que prioriza o desenvolvimento a custa da degradação do meio ambiente.Num dos pratos dessa falsa balança, estão as empresas e corporações que mercantilizam e esgotam a terra.


A Amazônia assiste a depredação da riqueza, da beleza de suas águas, biodiversidade e energia (os três maiores alvos do sistema capitalista) que vigora com o pensamento único em muitos gabinetes (espaço político).


Existem muitos gritos que vem da Amazônia.


– O grito das populações indígenas dizimadas e com suas terras exploradas. A madeira das terras indígenas é roubada vergonhosamente sem que ninguém seja punido. Pelo contrário.


 – A problemática dos rios contaminados pelo mercúrio e agrotóxicos;


– A soja, câncer de nossa região, que está subindo, a mata cai e o meio ambiente se vai.


– O problema da criação extensiva de gado e com isso é a floresta que cai. 


– O deserto verde de eucaliptos e pinhos tomando lugar da floresta amazônica.


Não se pode dizer que a Amazônia está urbanizada quando mais da metade da população não tem água tratada e esgoto;


Os povos indígenas tornam-se sempre sinais de conflito porque contrapõe a nossa cultura ocidental. Nossa sociedade tem a prática de devastar enquanto os povos indígenas vivem a prática da preservação, porque são as riquezas da floresta com os recursos naturais que lhe dão garantia do bem viver.


Em RO, considerando os 54 povos indígenas que convivem conosco, existem apenas 21 terras indígenas demarcadas (cinco delas são ilhas da Terra Indígena Oro Wari). Restam 16 terras para 53 povos. Cadê as terras dos outros povos que lhe são de direito. Encontram-se “griladas” por quem? São 15 os povos indígenas livres em RO, somente 01 povo tem sua terra regularizada. O que dizer dos povos indígenas que foram expulsos de seus territórios tradicionais, enquanto a Constituição Federal nos artigos 231 e 232 garantem o direito a terra e a FUNAI não agiliza a regularização das terras indígenas, o INCRA continua fazendo a prática de assentamento nos territórios tradicionais indígenas. (Exemplo Joana D’arc I, II, III). A população indígena de RO é de 10.683 indivíduos. Destes, 6.460 indígenas vivendo em aldeia e mais de 4.223 vivendo nas cidades (dados do IBGE).


Devemos ter mais respeito a saúde dos povos indígenas


Hoje estamos vivendo num contexto de crise em relação ao desenvolvimento econômico, porque o modo de produção e de consumo estão centrado numa visão do sistema econômico capitalista neo liberal. Enquanto o sistema de produção e consumo na pratica dos Povos Indígenas e das populações tradicionais são de reciprocidade /solidariedade. Isto deve ser valorizado e respeitado.


A vida é dom e não mercadoria.


 


Hoje 18/09 é em nossa igreja o dia do perdão.


 


Lembremos: Deus perdoa sempre, os homens às vezes e a natureza nunca.


 


Terminamos citando um provérbio africano: “Pessoas pequenas, fazendo coisas pequenas, em lugares não muito importantes, conseguem mudanças extraordinárias”. Entramos nesta, façamos a nossa parte.


 


Porto Velho, 18 de setembro de 2009.


 

Fonte: Cimi RO
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