Campanha Guarani faz parte de seminário na Universidade Federal da Grande Dourados
A campanha “Povo Guarani, Grande Povo” teve espaço na Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), durante o II Seminário Regional sobre Território, Fronteira e Cultura realizado entre 08 e 11 de setembro. O tema fez parte do mini curso “Identidade e Territorialidade Indígena em Mato Grosso do Sul”, ministrado pelos mestrandos em historia e geografia da UFGD Cássio Knapp e Juliana Mota, respectivamente. Vinte pessoas, entre acadêmicos, professores e profissionais de outras áreas escolheram o tema interessados em conhecer melhor a situação dos Kaiowa-Guarani na faixa de fronteira entre Paraguai e Brasil. Também tinham interesse em saber o que implica a luta pela demarcação de suas terras, tendo como marco referencial o significado de território para os povos indígenas.
Como abertura da atividade, foi feita a “dinâmica do reconhecimento” que consiste na consideração e aceitação do outro como diferente. Como parte da dinâmica foi lido o texto antropológico “ritos corporais entre os Nacirema”, povo indígena norte-americano de costumes extremamente exóticos. Sobre os ritos dos Nacirema, o antropólogo Bronislaw Malinowski (1884-1942) escreveu: “Olhando de longe e de cima de nossos altos postos de segurança na civilização desenvolvida, é fácil perceber toda a crueza e irrelevância da magia. Mas sem seu poder de orientação, o homem primitivo não poderia ter dominado, como fez, suas dificuldades práticas, nem poderia ter avançado aos estágios mais altos da civilização”.
Os kaiowa-Guarani
O professor e mestrando indígena Kaiowa-Guarani, Izaque João, que participou também do mini curso falou da importância do maracá, instrumento musical guarani, como ferramenta de resistência mágica e cultural de seu povo, que na atualidade está ameaçado. Em relação às atividades de divulgação da situação dos Kaiowa-Guarani a nível nacional e internacional, manifestou que os indígenas precisam de solidariedade e de aliados. “Chega um momento em que nós já não temos condições para fazer garantir nossos direitos porque nossas aldeias estão superlotadas e recebemos pressões externas de todos lados, de todo tipo, que resultam no esquecimento de nosso maracá, de nossos rituais, e muitos acham que é melhor o suicídio que viver desse jeito”.
Segundo reconheceram os participantes do curso, as reservas indígenas têm se convertido em verdadeiros “campos de concentração” e que a demarcação das terras Kaiowa-Guarani é uma necessidade. Foi assinalado, em contrapartida, que a atual política econômica no Estado é “seguir jogando dinheiro à vontade para o agronegócio, para o território da cana, onde ficam justamente os territórios indígenas”.
A Campanha Guarani vêm sendo uma ferramenta deste povo e seus aliados para defender, por exemplo, a economia da reciprocidade que faz parte de cultura Guarani. Este conceito confere à propriedade um sentido muito diferente do que se entende na sociedade em geral. Especialmente do que se entende por propriedade da terra dentro da chamada “sociedade produtiva”, guiada pelo latifúndio improdutivo e o agronegócio da monocultura que o reduz a uma simples mercadoria e que beneficia a uma minoria de especuladores. “O povo Guarani não se considera dono da terra, nem daquilo que nela vive”. A propriedade Guarani é o território onde se pratica a economia da reciprocidade, generosidade e solidariedade. È o espaço onde se desenvolve com alegria a “ajuda recíproca” que é chamada de “jopoi”.
No curso foram apresentados o documentário “Semente de Sonhos” e o Mapa Guarani. Também foram distribuídos aos participantes outros materiais da Campanha “Povo Guarani, Grande Povo”.