11/09/2009

Carta de repúdio à desocupação da Terra Indígena Laranjeira Ñanderu

Nós


Nós, abaixo-assinados, manifestamos o nosso veemente repudio à atitude de despejo que está sendo realizada na Terra  Indígena Laranjeira Ñanderu, no município de Rio Brilhante no estado do Mato Grosso do Sul.


 


Consideramos que as políticas públicas ineficientes para as comunidades indígenas neste Estado estão levando a essa atitude inadequada e desumana. São muitas famílias que estão vendo seu Tekoha ser ameaçado, porque não há um respeito ao seu direito tradicional.


 


É profundamente lamentável e desumano que o grupo indígena que esteve há séculos naquela terra, da qual foi violentamente expulso, seja agora mais uma vez jogado para fora. Essa terra é indispensável para os indígenas continuarem a viver conforme lhes garante a Constituição.


 


Os agentes contrários aos direitos indígenas e responsáveis diretos por mais essa violência terão que dar conta aos cidadãos deste país e do mundo por mais essa agressão às comunidades originárias dessas terras, sendo hoje submetidas a uma das situações de maior violência de que se tem conhecimento.


 


Enquanto está em curso, embora tardiamente, o processo de identificação dos territórios tradicionais dos Kaiowá Guarani, acontece esse despejo, indicando uma contradição entre o discurso e a ação no sentido de resolver a questão da terra. Mas o que se vê são os sofrimentos sendo propiciados a grupos que estão sendo expulsos.


 


Estamos solidários à comunidade de Laranjeira Ñanderu e queremos denunciar mais esse absurdo despejo, o qual faz parte da estratégia de concentração de terra e capital nas mãos de uns poucos donos do capital nacional e internacional.


 


Só haverá, efetivamente, condições de justiça e democracia quando forem reconhecidos os direitos e demarcadas as terras indígenas, nesse caso, em especial no Mato Grosso do Sul.


 


Diante dessa situação não podemos nos calar, pois ela se torna, a cada dia, uma calamidade publica. Como cidadãos e cidadãs temos a obrigação de defender os povos, que desde a sua colonização foram massacrados. Elegemos representantes para legislar e queremos cobrar deles o compromisso do que ficou garantido na Constituição Federal.


 


Não haverá tempo para a espera, o poder público deve resolver esse impasse urgentemente, precisamos pagar essa dívida logo e poupar esse povo de sofrimentos vindouros. Por isso exigimos que se devolva aos povos indígenas o que lhes é de direito, não os deixem às margens da vida. Até quando teremos que conviver com injustiças desse porte? Respondam-nos se puderem senhores dirigentes!


 


O povo lamenta essa situação, e só cabe a vocês, dirigentes dessa nação, a responsabilidade de dar a oportunidade de continuidade dos Kaiowá Guarani. Não há mais tempo…


 


PARTICIPANTES DO III SEMINÁRIO POVOS INDIGENAS E SUSTENTABILIDADE: Saberes Locais, Educação e Autonomia


 


Assinam: professores indígenas, professores não indígenas, pesquisadores, gestores educacionais, acadêmicos indígenas e não indígenas.


 


Campo Grande, MS ,10 de setembro de 2009


Fonte: Cimi MS
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