20/07/2009

O Pastor dos pobres partiu cumprindo sua Missão


No dia 16 de julho de 2009, às 13:30h, no hospital Madre Tereza, em Belo Horizonte (MG),  partiu para a eternidade o ex-bispo da diocese de Itabuna e arcebispo emérito de Diamantina (MG), dom Paulo Lopes de Faria, 78, vítima de câncer. Dom Paulo estava internado desde o dia 29 de junho e, na semana anterior tinha feito uma cirurgia para a retirada de um tumor maligno. O corpo de dom Paulo foi velado no Bairro das Indústrias, em Belo Horizonte, e também em Diamantina, na Basílica do Sagrado Coração. E o seu sepultamento ocorreu no dia 18, na Catedral Metropolitana, na cripta da catedral.


 


O período em que Dom Paulo exerceu o bispado na diocese de Itabuna foi de 21 de dezembro de 1983 a 2 de agosto de 1995. No sul da Bahia, teve uma atuação destacada e inseriu a Igreja Católica em grandes ações sociais. A luta pelos direitos humanos o fez travar uma queda-de-braço homérica com o ex-delegado regional da época, Marcos Ludovico. Em relação aos povos indígenas destacam-se sua posição incondicional de apoio à luta dos Pataxó Hã-Hã-Hãe e o carinho com que tratava as lideranças indígenas. Para os Pataxó Hã-Hã-Hãe mesmo estando longe da Diocese de Itabuna a partida de Dom Paulo foi sentida com muita comoção, em especial pelos mais velhos que tiveram a oportunidade de conviver de perto com o Bispo.


 


O jornalista Daniel Thame em seu blog (http://www.danielthame.blogspot.com/) traduz com muita fidelidade um perfil de Dom Paulo e a sua forte ligação com as Pastorais Sociais da Diocese de Itabuna em especial com Conselho Indigenista Missionário e a Comissão Pastoral da Terra. O Artigo do Daniel se intitula: “Enfim, perto de Deus”. Dom Paulo Lopes de Faria, o bispo dos humildes, o pastor dos pobres, o ser humano especial que teve participação ativa em todos os movimentos sociais de Itabuna durante mais de uma década; enfim encontrou o seu lugar no mundo. Melhor, o seu lugar na eternidade.


 


De Dom Paulo pode se escrever, sem parecer piegas, que cumpriu sua missão terrena e agora está ao lado de Deus, lugar destinado às pessoas de bem. E junto de Deus, certamente Dom Paulo continuará zelando pelos mais humildes, que foram a sua razão de viver.


 


Em Itabuna, a presença de Dom Paulo coincidiu com a eclosão de uma das piores crises, senão a pior, já enfrentada pela Região Cacaueira. Uma crise que jogou centenas de milhares de pessoas na mais absoluta miséria e que formou um imenso bolsão de miséria na periferia de Itabuna. Foi essa gente humilde, desassistida e à mercê de administradores mais preocupados com obras faraônicas do que com investimentos em infra-estrutura e investimentos em programas sociais, que Dom Paulo defendeu, conciliando sua missão de pastor de almas com uma presença marcante nos movimentos sociais.


 


Dom Paulo não teve medo de enfrentar os poderosos e nem se curvou às inúmeras pressões (vindas de fora e também de dentro da Igreja) para limitar sua atuação à função religiosa. Foi um religioso do seu tempo, num tempo em que à Igreja não cabia apenas oferecer o reino dos céus e o conforto espiritual, mas também o apoio a uma vida digna aqui mesmo na terra.


 


Não é apenas coincidência o fato de que em seu período de bispado em Itabuna ter se dado no momento em que houve um sopro de renovação na política e o fortalecimento dos movimentos sociais. Não é sua culpa que esse processo tenha se arrefecido. O bom pastor pode até ensinar o caminho, mas não pode evitar que se desvie dele.


 


Dom Paulo, obviamente, está longe de ser uma unanimidade em Itabuna. Nem isso seria possível para alguém com seu perfil. Mas é, sem sombra de dúvidas, uma das mais fascinantes personalidades de uma cidade que, prestes a completar seu primeiro centenário, está por lhe devotar um merecido tributo. A celebração do primeiro centenário de Itabuna vem a calhar para essa homenagem mais do que justa a alguém que tanto lutou por justiça social”.


 


Dom Paulo tinha como lema episcopal: “Paulo, apóstolo de Jesus Cristo”, e o foi verdadeiramente, fez crescer em muito a Igreja na Diocese, seu amor e carinho por Jesus nas figuras dos excluídos era ao mesmo tempo um gesto de caridade e encontro com Deus no “outro”. Seu testemunho, sua prática, suas lições permanecerão gravadas em nossos corações, serão constantemente retransmitidas por aqueles que continuam acreditando numa nova sociedade possível e na concretização do Reino de Deus.


 


Obrigado por tudo e para sempre BOM PASTOR.


 


Itabuna, 20 de julho de 2009


Conselho Indigenista Missionário

Fonte: Cimi
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