28/05/2009

Encontro de Jovens Guarani em São Paulo

Jovens indígenas, da etnia Guarani Mbyá, representando 12 aldeias localizadas na região sudeste do Brasil, se encontraram entre os dias 18 e 22 de maio, na aldeia Tenondê Porã, localizada na região de Parelheiros, em São Paulo. O encontro chamado Tenonderã, “Olhar para o futuro” em Guarani Mbyá, foi idealizado no final de 2007 por jovens da aldeia Tenondê Porã e se concretizou através do projeto Tenonderã, feito em parceria com o Instituto de Tradições Indígenas (IDETI), a Associação Guarani Tenondê Porã e a Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente da Prefeitura de São Paulo.


O evento que marca o início de atividades que ocorrerão durante todo o ano, reuniu cerca de 180 jovens de nove aldeias de São Paulo e três aldeias do Rio de Janeiro e teve como objetivo promover o debate sobre Meio Ambiente Sustentável, além de temas relacionados às suas realidades.  Entre os palestrantes estiveram presentes o geógrafo Aziz Ab´Saber, do Instituto de Estudos Avançados da USP, e a procuradora da República, Sandra Kishi.


No primeiro dia do encontro, Ab´Saber, 84 anos, fez um discurso emocionado aos indígenas presentes, lembrando a influência dos povos tupi-guarani no Brasil, dos quais fazem parte o povo Guarani Mbyá. “Vocês são herdeiros da pré historia e têm uma língua que enriquece totalmente o nosso Brasil e que está em toda parte, em todo o macro-território, o  grande território brasileiro. Fiz uma análise de onde apareciam os nomes tupis dentro da América do Sul e, sobretudo no Brasil, de norte a sul e de leste a oeste e observei, mais ou menos, sete a oito milhões de quilômetros com nomes tupis aparecendo para os rios, plantas e paisagens, para as diferentes regiões do Brasil”, apontou.  


Nesse sentido, o encontro apresentou a grande preocupação da juventude indígena com a intensa agressão ambiental que atinge diretamente o modo de vida tradicional dos povos indígenas. Para Ataíde Gonçalves Vilharve, 23, idealizador do evento, este primeiro encontro foi um grande avanço. Para ele, “é necessário que os jovens saibam das dificuldades das aldeias e participem de forma efetiva em suas comunidades”.


Conforme Vilharve, a juventude presente mostrou grande interesse em conhecer mais sobre o meio ambiente e participar das discussões sobre suas realidades. “Pensamos na necessidade de contribuir com as nossas aldeias, apoiar a luta dos mais velhos, entender as necessidades de nossas comunidades e fazer com que as autoridades do município, estado e união dêem uma atenção especial à juventude indígena”, acrescenta.


Segundo o jovem Guarani Ivandro Martins da Silva, vice-presidente do Instituto de Tradições Indígenas, o encontro também contribuiu para que mais jovens acompanhem a problemática e as lutas pela demarcação das terras indígenas. “É importante que eles venham a contribuir com os caciques e outras lideranças nesta luta que é tão difícil”, salienta.


Para Ab´Saber, protagonista na história da geografia brasileira, a luta não é fácil, contudo, “os tupis, independentemente da visão errada dos burgueses brasileiros, banqueiros e bancários, associados apenas ao dinheiro, foram muito importantes para o nosso país, porque dentro da história inteira, do território geral do país , eles marcaram os nomes e continuam resistindo com seu modo de vida”.


Além da grande preocupação dos jovens quanto aos cuidados com o meio ambiente, a partir da recuperação do estilo de vida tradicional, apontou-se a necessidade de se atentar para o consumo de alimentos industrializados e refrigerantes, além de uma atenção especial para o destino do lixo e outros materiais poluentes. As propostas relacionadas à questão do meio ambiente sustentável se referiram à construção de políticas ambientais, especialmente relacionadas à Mata Atlântica do Estado de São Paulo.


 


Outras solicitações da juventude indígena


 


Além das discussões e propostas relacionadas ao meio ambiente, vale-se ressaltar outras propostas para a questão da saúde, educação, esporte e cultura e, ademais, a solicitação da juventude indígena para a continuidade destes encontros anualmente e a formação de uma comissão estadual, em que esteja presente um representante de cada comunidade.


 


Saúde


A valorização da medicina tradicional foi ressaltada com destaque para a importância da casa de reza e dos conselhos dos líderes espirituais no tratamento de problemas de saúde; a capacitação de agentes de saúde indígena e a valorização da comida tradicional Guarani.


 


Educação


A ampliação de Centros de Cultura Indígena (CECI) para todas as aldeias do estado de SP; o acesso dos indígenas à universidade; maior conhecimento sobre os direitos indígenas; formação e contratação de professores indígenas e elaboração de livros didáticos específicos para o povo Guarani.


 


Cultura


A representação do xeramõi e xejaryi (líderes religiosos) nas aldeias para repassar o conhecimento e o modo de viver aos jovens.


 


Esporte


O incentivo à prática do esporte cultural (xondaro, zarabatana, arco e flecha, peteca e corrida) com recursos para as aldeias; organização de um torneio Guarani de esporte cultural e inclusão do esporte cultural Guarani no calendário municipal.


Beatriz Catarina Maestri e Vanessa Ramos


Equipe Cimi SP

Fonte: Cimi Equipe SP
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