27/05/2009

Rompendo cercas e cadeados


 


“Nos solidarizamos com o sofrido povo Kaiowá Guarani, e com todos vocês que o acompanham. Com muita indignação e apesar de tudo com muita esperança, sigamos. Um forte abraço e a paz subversiva do Evangelho”.


Pedro Casaldáliga (Mensagem enviada ao Cimi-MS, 25 maio de 2009).


 


30 integrantes de movimentos sociais e entidades em defesa dos Direitos Humanos passaram o dia de ontem, 26 de maio, ao lado das famílias Guarani Kaiowá ameaçadas de despejo no Mato Grosso do Sul. Cerca de 100 indígenas retomaram, há mais de um ano, 450 hectares de sua terra tradicional Laranjeira Nhanderu no município de Rio Brilhante. A Justiça Federal de Dourados decidiu que eles devem deixar a área. O Ministério Público Federal recorreu da decisão ao Tribunal Regional Federal (TRF) 3 Região, portanto as famílias aguardam o julgamento do TRF antes de saírem da terra.


Uma das questões que mais causou indignação e revolta aos integrantes da Caravana de Solidariedade aos Guarani Kaiowá, foi a estratégia do agronegócio de isolar a comunidade indígena, impedindo o acesso à ela, obrigando adultos e crianças da comunidade a deslocamentos a pé para ir à escola, receber atendimento à saúde ou mesmo receber o parco alimento da cesta básica. E o mais grave é a negação do acesso ao próprio órgão de assistência do governo federal, a Funai.  Parece que a lei privada do agronegócio está acima da Constituição Federal, no livre direito de “ir e vir”. “Vamos   quebrar esses cadeados da vergonha, entrando com uma ação na justiça” disse a Dr. Odete, no sindicato dos trabalhadores rurais de Rio Brilhante.


 


Do lado dos fazendeiros, que se dizem proprietários das terras em que está a comunidade Kaiowá Guarani de Laranjeira Nhanderu, ostentam papéis que dizem ser títulos de propriedade de 1847, portanto quando ali ainda era Paraguai. Só resta a pergunta que alguns indígenas fizeram a zelosos proprietários “gostaríamos de saber se os senhores conseguiram assinatura de Deus, pois para nós a terra foi feita por Deus para todos e ele deve ter se negado a assinar qualquer titulo de propriedade”.  “Malditas cercas do latifúndio” diria D. Pedro Casaldáliga, que em seus mais de 80 anos de existência, lutou e continua lutando para romper as cercas da racismo, do preconceito, da acumulação e exclusão, da dominação, da exploração e de todas as formas de injustiça.


 


Os Kaiowá Guarani continuam isolados pelas cercas e cadeados, até quando?


 


Os ideólogos do confinamento


 


Para justificar o processo de espoliação das terras e recursos naturais dos Guarani, nessa história de cinco séculos de invasão, não faltam os ideólogos de plantão que se prestam, certamente com regias compensações, a justificar a infâmia do confinamento a que estão submetidos os Guarani. Vejamos o que vem difundindo um deles, referindo-se ao atual processo de identificação das terras Guarani no Mato Grosso do Sul, criando o fantasma da criação de uma “Nação Guarani”. “D. Rosenfield, em recente publicação, diz “A nação guarani não está, porém,  restrita a esses Estados brasileiros, mas se estende a outros paises: Bolívia, Paraguai, Argentina e Uruguai. Segundo eles, a Bolívia já trilha esse caminho político, necessitando apenas ser apoiada no que vem fazendo, destruindo, na verdade, as frágeis instituições daquele país. O foco, aqui, seria o Paraguai, onde o processo se inicia com um presidente simpatizante da “causa” e que, via Teologia da Libertação, compartilha com os mesmos pressupostos teóricos do Cimi, da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e do MST. Entendem-se , portanto, melhor a sustentação dessas agremiações políticas ao presidente Lugo e a política adotada de apoio às invasões das terras dos brasiguaios.”(“A Nação Guarani”, D, Rosenfield, Estadão on line, 25/05/09)


 


Nessa mesma direção vão as afirmações de setores militares e políticos, na tentativa de negar os direitos dos povos indígenas a viver com dignidade e paz em suas terras.


 


Egon Heck- Cimi MS, Dourados 27 de maio de 2009


 


Fonte: Cimi - MS
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