05/02/2009

Adão Pretto: trovador do futuro

O Conselho Indigenista Missionário (Cimi), irmanado com as demais entidades da Via Campesina e com militantes sociais de todo o país, lamenta profundamente a perda, na manhã de hoje, 5 de fevereiro, do companheiro Adão Pretto, deputado federal pelo Partido dos Trabalhadores do Rio Grande do Sul e um dos fundadores do Movimento Nacional dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).


Nascido na cidade de Coronel Bicaco (RS), em 1945, criado em Miraguaí (RS), Adão Pretto participou das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), da Comissão Pastoral da Terra (CPT), foi presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Miraguaí e fundador da Central Única dos Trabalhadores (CUT) no estado. Em 1991 foi eleito deputado federal pela primeira vez e, atualmente, exercia seu quinto mandato consecutivo. Adão Pretto deixou esposa e nove filhos – e uma infinidade de companheiras e companheiros, de amigas e amigos.


Em 2008 presidiu a Comissão de Legislação Participativa (CLP), da Câmara dos Deputados, onde abriu espaço para a participação, naquela Casa, dos movimentos sociais do campo, povos indígenas, quilombolas, mulheres e muitos outros setores, recebendo denúncias sobre a criminalização dos movimentos e lideranças, debatendo seus problemas, escutando suas demandas e encaminhando suas propostas para uma sociedade verdadeiramente plural, justa e democrática.


Adão Pretto foi um exemplo de integridade e coerência. Quando ele falava, só se podia escutar e concordar, pois expressava sempre a verdade concreta vivida pelo povo do campo. E ele falava com os olhos brilhando, com a serena certeza de que era apenas porta-voz de algo muito maior: a dura história, a vida cotidiana, os sofrimentos e esperanças de todo um povo. Adão era trabalhador, honesto, combativo e construtor do futuro como os camponeses. Alimentava as bases populares com suas idéias e projetos e estas o alimentavam com seu reconhecimento e seu terno afeto.


E Adão era poeta, fazia e declamava trovas, nas grandes assembléias e marchas camponesas, que demoliam o latifúndio, explicavam pedagogicamente as injustiças e anunciavam um mundo melhor, feito a partir das lutas dos trabalhadores e trabalhadoras, um mundo justo, um mundo pleno, um mundo sem amos.


Adão Pretto sonhava alto, com os pés sempre na terra. Fecundava a terra com sonhos de justiça e alimentava os sonhos com os frutos da terra libertada, que ajudava conquistar.


Adão Pretto se foi e agora ficou para sempre, a nos dar força nas lutas atuais e nas que virão; a nos ensinar com poesia e exemplo; a nos inspirar com coragem e ousadia; a nos mostrar o caminho rumo a um país melhor, que ele construia a cada dia, de maneira calma e generosa, cuia de chimarrão nas mãos e olhos postos no futuro.


Adão Pretto hoje já faz trovas no céu.


Conselho Indigenista Missionário – Cimi


Brasília, 5 de fevereiro de 2009. 

Fonte: Cimi
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