04/11/2008

Os Bororo denunciam prisão suspeita de jovem indígena no Mato Grosso

Ontem, 3 de novembro, o jovem professor José Aniceto Xavier de Melo, do povo Bororo, foi preso acusado de furtar um carro em Rondonópolis, no Mato Grosso. Segundo relato da cacique Aparecida Ekureudo, da aldeia Jarudore, onde José vive, o rapaz foi vítima de uma armação. Ela, o professor e outros Bororo estavam na cidade para tratar de questões da aldeia com a Fundação Nacional do Índio (Funai).


Aparecida afirmou que, no início da tarde, Aniceto foi para o centro de Rondonópolis. Lá, um rapaz conhecido como ‘Batata’ pediu que José Aniceto conduzisse um veículo até a CASAI (Casa do Índio). Imediatamente, um carro de polícia começou a perseguir o veículo onde estava o indígena. No percurso, ‘Batata’ teria saído do carro. A polícia, então, parou o veículo e prendeu o jovem indígena.


Após ser preso, mesmo sem ter reagido, o jovem teria sido agredido no rosto. Aparecida afirmou ter visto um hematoma perto dos olhos de Aniceto. Um dos policiais envolvidos na prisão do rapaz e que estaria presente durante a agressão é um Policial Militar chamado Carlos. A cacique informou que este policial seria filho de um dos não-índios que ocupam a terra indígena Jarudore, onde se localiza a aldeia Jarudore.


Na delegacia, a cacique Aparecida não foi recebida pelo delegado, que falou apenas com o administrador da Funai em Rondonópolis, Antônio Dourado. Para os indígenas, Dourado disse que Aniceto seria transferido para a Cadeia Pública da cidade e que o caso dele seria acompanhado por um advogado da Funai.


Contexto


Os Bororo que vivem em Jarudore lutam para reaver seu território tradicional, que foi demarcado ainda pelo Marechal Rondon. Parte do distrito de Jarudore está em terra Bororo. Daí, os conflitos que, em 2006, resultaram na tentativa de assassinato do genro da cacique e na morte de Helenilson, um Bororo, no inicio de 2007. Helenilson foi assassinado por dois Policiais Militares, que responde ao processo em liberdade. Esta situação gera um clima de insegurança entre os Bororo.


O Secretário Executivo do Cimi, Éden Magalhães, avalia que a demora da Justiça em determinar a retirada dos não-índios da terra Jarudore é a principal responsável por essa situação de tensão. A terra Jarudore está registrada como terra indígena no Serviço De Patrimônio da União desde 1987.


O Cimi espera que, no caso do jovem preso, todas as circunstâncias e os fatos relacionados sejam devidamente investigados pela Polícia. Espera também que a Funai e o Ministério Público atuem com empenho para garantir o direito de defesa de Aniceto e sua integridade física.  

Fonte: Cimi - MT
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