CARTA AOS IRMÃOS DE DOURADOS
Nesta manhã (27 de agosto) o movimento indígena Guarani/Kaiowá/Terena, apoiado pelos movimentos sociais resolveu sair às ruas para contar para você caro amigo, as necessidades e privações que sofremos todos os dias em nossas vidas.
Somos 40 mil em todo o Estado, 12 mil somente em Dourados, onde vivemos em apenas 3,5 mil hectares. Essa quantidade de terras é insuficiente para as famílias produzirem alimentos até mesmo para nossa subsistência e para o sustento de nossas crianças. É pouco espaço, como se fosse campo de concentração, um confinamento humano.
Por esta falta de espaço, já é comum aos irmãos da cidade verem na imprensa casos de desnutrição e violência dentro da Reserva. As imagens são chocantes, não são? Pois é, tudo isso poderia ser evitado se pudéssemos ter um espaço para produzirmos, cultivarmos nossas culturas tradicionais, termos nossas matas onde habitam as divindades, para termos de volta nossa dignidade, cruelmente arrancada desde que os primeiros europeus aqui chegaram. Não queremos colocar ONG’s, poderes paralelos e muito menos queremos a independência desta grande nação que tanto amamos que é o Brasil, como muitas pessoas mal intencionadas espalham em boatos por aí. Lutamos nas guerras deste país para proteger suas fronteiras, o amamos tanto quanto vocês, compartilhamos desde a infância este amor, expresso no sorriso da menos de nossas crianças que aprende o significado do patriotismo com o rosto pintado de verde e amarelo e bandeirinha em punho.
Essa história de que 33% do território do Estado, que seremos uma “nação guarani”, não passa de uma invenção preconceituosa, criada para tentar convencer o cidadão de bem a se colocar contra a justiça social que o Estado está querendo promover. Não queremos tomar terras de ninguém, somos favoráveis a uma negociação pacífica com produtores rurais que porventura tenham terras suas identificadas como a terra de nossos antepassados e que por Direito Imemorial também nos pertence, inclusive defendemos o pagamento de indenizações também pela terra nua se for o caso.
Temos fé em Deus que o diálogo vai prevalecer, que a justiça será feita e haverá união entre índios e não índios, que nossas crianças ainda brincarão juntas, que nossos idosos trocarão experiências uns com os outro e que Dourados será de fato a “Terra de todos os povos”, não só de um grupo, mas de todos nós, filhos de Deus.
Dourados, 27 de setembro de 2008.
Povos Guarani/Kaiowá/Terena