Relato sobre a violência policial contra a Comunidade Quilombola
Relato sobre a violência policial contra a Comunidade Quilombola de Angelim I em Conceição da Barra no Sapê do Norte ocorrido em 04/09/2008
Ontem, 04/09, foi um dia muito difícil para algumas famílias desta comunidade no Sapê do Norte. Como se sabe a sobrevivência de algumas famílias está em torno do carvão e que o carvão vem sendo o foco de resistência destas famílias. Atualmente parte das comunidades do Sapê do Norte está fazendo corte do eucalipto, ou seja, perderam o medo de enfrentar a Aracruz Celulose isto, como forma de gritar pela terra a qual lhes fora roubada no passado. As famílias reconhecem que a atividade carvoeira não é nada confortável e que não é um projeto de sustentabilidade a médio e longo prazo, mas que na atual conjuntura é necessário fazer carvão de árvores de eucalipto e não de facho.
Pela manhã chegou em Angelim I a Visel (polícia armada da Aracruz Celulose) trazendo maquinas fotográficas e filmadora; a Polícia Militar com dois carros trazendo dez policiais acompanhados de máquina fotográfica; um ônibus e caminhões trazendo trabalhadores da Plantar (terceirizada da Aracruz Celulose responsável pelas plantações) e com eles um mandado de busca e apreensão. A Visel veio entrando com maior autoritarismo querendo enquadrar as pessoas da comunidade e fazendo o discurso que o roubo de madeira gravíssimo. As famílias conseguiram abordar a polícia e dialogar até que deixou claro que é uma comunidade quilombola que tem reconhecimento e aparato judicial legitimo e, que a luta pela terra irá continuar agora e sempre até que a Aracruz devolva às famílias as terras que roubou. Feito isto a polícia entendeu, mas reafirmou que a comunidade tem que ter assessoria jurídica (advogados quando se trata desta questão), “sabemos, mas temos que executar o mandato se não o juiz ferra com a gente” – afirmou o comandante da operação (sargento Luiz). Afirmou que por se tratar de terras quilombola compete à justiça federal; que o movimento tem que pedir a Polícia Federal, mas enquanto isto não acontece, infelizmente terão que ir às comunidades intervir. A Visel queria verificar todos os espaços da propriedade, já não bastavam aquelas madeiras, queria revistar ainda mais a propriedade. Então, por um momento algumas pessoas da comunidade revidaram e deram uns empurrões no guarda da Visel e em seguida tudo se acalmou. A Visel viu que com polícia militar não teve sucesso, pediu que viesse um grupo da polícia especial, o GAT. Mas, ao chegar o GAT, o comandante da Polícia Militar explicou que foi apenas um mau entendido e que já tinham resolvido o problema e eles então retornaram.
Bem pessoal, é provável que as coisas venham a “esquentar” ainda mais por aqui, pois a polícia disse que também tem um mandado de busca e apreensão para Comunidade de São Domingos.
Hoje, 05/09, ficou tudo bem. Conversei com REIS (advogado do Programa e Defensores dos Direitos Humanos – CDDH), ele me pediu a cópia do mandado para fazer uma leitura e dar alguns encaminhamentos junto às pessoas autuadas no mandado. Conversamos com Chapoca, liderança quilombola do Sapê do Norte e resolvemos fazer um debate mais profundo desta situação e também como viabilizarmos acesso a assessoria jurídica durante a reunião da Comissão Quilombola do Sapê do Norte, amanhã, 06/09.
É pessoal, isto foi um pouco do que aconteceu conosco.
Um abraço,
João