12/08/2008

Outro indígena falece em Rondônia devido à demora no atendimento

Morreu no dia 3 de agosto, no Hospital de Base Dr. Ary Pinheiro, em Porto Velho, Pao Yam Oro Waram Xijein, de 55 anos. Ele estava internado havia 18 dias. Pao Yam morava na aldeia Sagarana, terra Sagarana, onde foi cacique por 30 anos, até 2004.


 


No final de junho de 2008, Pao Yam procurou a Casa de Assistência ao Indígena (Casai) de Guajará-Mirim e depois foi encaminhado para o Hospital Base em Porto Velho onde realizou alguns exames. Ele foi internado com leucemia linfoblática aguda e esperou o encaminhamento médico para fora do estado. O médico disse que o encaminhamento era urgente. Deveria ocorrer em menos de 10 dias.


 


A Fundação Nacional de Saúde (Funasa) é ciente de que, no caso de leucemia aguda, as chances de sobrevida dependem da rapidez do tratamento. É uma questão de dias, ou até, de horas, para que se consiga, por meio de quimioterapia, a primeira melhora.  O Cimi e Dom Geraldo, bispo da diocese de Guajará-Mirim, fizeram grandes esforços para conseguir a remoção de Pao Yam, inclusive, falaram com o senador Valdir Raup e com o Coordenador da Funasa, Dr. Josafá Pihyaui Marreiro.


 


A Funasa sempre respondia que podia realizar a remoção, mas não havia vaga no hospital em Barretos (para onde Pao Yam seria removido). No dia 30 de julho, o Cimi contatou o Serviço Social do hospital Pio XII em Barretos e descobriu que bastava enviar o laudo médico e os documentos do paciente, pois, avaliando a gravidade da doença, eles agendavam imediatamente a internação. 


 


Em seguida, o Cimi e a liderança Antônio Puruborá repassaram as informações e os contatos para a Funasa, por meio da Srª Ivonêse Rodrigues da Silva – chefe do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) de Porto Velho. Infelizmente a Funasa só repassou os dados exigidos pelo hospital, no dia 1º após o meio dia. Já era tarde, a febre já tinha aparecido, bem como hematomas espalhados em todo o corpo. Pao Yam faleceu sem sequer ter iniciado o tratamento. 


 


No dia 20 de julho, antes de viajar, o médico do Cimi, Dr. Gil de Catheu, foi ao Hospital de Base e encontrou Pao Jam no terceiro dia da sua internação. Ele estava andando no corredor abatido pela descoberta da doença. Entretanto, o estado clínico do paciente e os exames de sangue não apresentavam sinais da doença. Pelo contrário, indicavam que ele ainda estava em boas condições para viajar e iniciar a quimioterapia.


 


No dia 31 de julho, faleceu também em Porto Velho, Severino Oro Nao´, da aldeia Tanajura, terra Pacas Novas. Ele morreu vítima de um câncer dos gânglios, com diagnóstico e tratamento tardio. O caso do Severino foi denunciado por uma liderança indígena, na VII Assembléia dos Povos Indígenas da Região de Guajará – Mirim, realizada entre os dias 1º e 5 de julho de 2008. Na época, Severino já se encontrava muito doente e a Funasa não informava o diagnóstico e nem tão pouco encaminhava o paciente para outro lugar.


 


O Cimi vem denunciando a negligência da Funasa em relação a grande demora na remoção dos pacientes com doenças graves ou com risco de evoluir para uma doença grave, como nos casos dos portadores de hepatites B ou C. Somente neste ano, a precariedade no atendimento resultou na morte de quatro pessoas: duas portadoras do vírus de hepatite B (com câncer do fígado), Severino e Pao Yam.


 


Portanto, a União terá que responder por essa situação. Os indígenas e o Cimi estão cansados de cobrar do Ministério Público Federal providências. Para nós, é muito claro que, enquanto não houver mudanças na Coordenação Regional da Funasa de Rondônia, não podemos esperar por dias melhores na saúde indígena do estado.


 


CIMI – Regional Rondônia

Fonte: Cimi - Rondônia
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