18/06/2008

A violência oficial no despejo dos Terena no Mato Grosso do Sul

Aos dias dezessete do mês de junho do ano de dois mil e oito, às 05:30 horas da manhã, chegaram os policiais da Policia Estadual e da ROTAI em um ônibus lotado desses policiais. Havia crianças, mulheres, gestantes, idosos que ali estavam dormindo. Os policiais chegaram e quando estavam conversando com todas as pessoas ali presentes na retomada, um policial bruto puxou uma taquara na mão da anciã Julia Meira Faustino de 54 anos de idade derrubando-a imediatamente no chão. Nós fomos proteger nossa anciã e começamos a apanhar de todos os policiais ali presentes.


Os policiais começaram arrebentando todas as barracas colocando fogo em tudo que ali estava, empurraram mulheres, crianças e idosos, puxaram cabelos de mulheres e pisaram e chutaram as roupas dos indígenas. Outra anciã, Nadir da Cunha da Silva de 68 anos foi agredida por um policial. Jogaram muitas bombas em direção às pessoas, atiraram com munição real na direção dos guerreiros e nas casas que existem dentro da área indígena Aldeia Passarinho.


Os policiais entraram nessa área e atropelaram os guerreiros com arma de fogo. Ameaçaram várias vezes matar os guerreiros indígenas que lutam para conquistar os nossos direitos que é a retomada da nossa terra. Derrubaram no chão homens e os algemaram colocando-os no camburão. Já a mulher Ramona Quirino (33 anos) jogaram uma bomba próximo aos seus pés,  caindo a mesma ao chão. Vieram os policiais e arrastaram-na pelo cabelo, colocaram as algemas e levaram para o camburão. Os policiais invadiram a aldeia Passarinho e levaram a força arrastado o Norberto Lopes Xavier (44 anos) até o camburão onde ficou retido e levado preso.


Os policiais atiraram com munição real, e não somente com as balas de borracha. No momento que estavam queimando as barracas os policiais debochavam e achavam graça daquilo que eles estavam fazendo. Empurraram várias vezes pessoas idosas e crianças que estavam ali, atiravam com arma de fogo. Ameaçaram indígenas dizendo que ao sair para fora da aldeia, os policiais irão pegá-los e prendê-los. Uma policial disparou com arma de fogo em direção a indígenas que se esconderam atrás de pés de manga dentro da aldeia Passarinho. Jogaram uma bomba em uma gestante Marileide da Silva (17 anos) que caiu desmaiada.


Os policiais jogaram uma bomba de gás venenoso em direção a uma criança indígena Jean Renato Quirino dos Santos Jares, de apenas nove anos de idade, no momento a criança ficou tonta e caiu no chão desacordada. Os policiais davam risada. A mãe Simone Renato Quirino colocou seu filho no colo desesperada chorando pensando que ele tinha morrido. Minutos depois a criança voltou ao consciente. Os policiais bateram com taquara na perna do Junior César de Almeida (33 anos) e o agrediram verbalmente. Jogaram os alimentos da comunidade no chão e queimaram os cobertores que aqueciam as famílias indígenas nessa época que faz tão frio.


Sem coração os policiais não pensaram e foram agredindo de forma mais cruel os indígenas inocentes sem armas que ali estavam. Feriram várias pessoas indígenas que estavam no movimento. Jogaram várias bombas dentro da aldeia Passarinho e atiraram com munição real em direção as casas que existem dentro dessa área que a comunidade está confinada. Na casa da indígena Rita Gomes Rodrigues, 46 anos, tem marca de bala. Na aldeia Passarinho tem marca de bala provando que eles deram vários tiros.


Por volta das oito horas da manhã os policiais se retiraram atirando com munições reais e continuaram jogando bombas de gás dentro da aldeia Passarinho, atropelando a comunidade para nos matar e nos ferir. Nós tentávamos nos esconder, mas eles iam atrás.


Os policiais desrespeitaram e violaram os nossos direitos de ter nossas terras roubadas de volta. Nós índios somos seres humanos, pessoas, cidadãos que devem ser respeitados. Os policiais invadiram a aldeia Passarinho, agrediram, empurraram, xingaram, bateram, arrastaram pelos cabelos, jogaram bombas de gás venenoso, atiraram com balas de borracha e atiraram com armas de fogo em direção dos nossos guerreiros.


A gente depois juntamos muitos cartuchos das armas disparados pelos policiais e guardamos para as pessoas verem. Os policiais vieram da forma mais cruel e brutal, não respeitaram nossos direitos, os direitos dos povos indígenas. Como há 500 anos a polícia só serve para matar, bater e perseguir o índio.


 


 


Pilad de Rebuá, Aldeias Passarinho e Moreira


Município de Miranda-MS, 17/06/2008.


 

Fonte: Cimi
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