13/05/2008

Cúpula dos Povos Indígenas: para um mundo diferente

Um mundo para todos e todas. “O mundo não é um só. É múltiplo e Um mundo para todos e todas. “O mundo não é um só. É múltiplo e diverso. Nossa mãe terra (pachamama) é meu ser vivo na qual convivem distintas culturas, uma biodiversidade riquíssima que não está a serviço do homem, porque o homem é parte dela e com ela deve viver em harmonia.  É um imenso abanico de povos, cada um com sua história, sua cosmovisão, sua espiritualidade, em solidariedade e reciprocidade.” ´


Diante da globalização neoliberal, os povos de América Latina e diversos países do mundo se organizam na busca de consensos e pela transformação do Estado monocultural por outro mais justo, equitativo, diversificado, mais democrático e participativo, sem exclusões.  Um Estado Plurinacional, um modelo de integração criado a partir e para os povos.


0s povos de Abya Yala uma vez mais dão uma grande contribuição para a construção de uma nova América, de um novo mundo. Por ocasião da realização da “Cumbre de los Pueblos”  que está se realizando desde hoje, 13 de maio até dia 16, em Lima, Peru, realizaram a histórica “Cumbre de los Pueblos Indígenas”, reunindo mais de mil e quinhentos indígenas do continente e aliados de vários países do mundo, para debater e consensuar estratégias que possibilitem a construção, já em curso, dessa nova América e mundo diferente, onde a diversidade seja reconhecida como a maior riqueza e tenha como base os valores dos ancestrais “a equidade, a solidariedade, reciprocidade e complementaridade”. Desta forma esperam contribuir decididamente para acabar com a esclusão e fazer com que o ‘Bem Viver’ seja garantia de futuro para toda Humanidade.


O ponto alto desse primeiro dia foi o Painel  Especial, composto pelos mais renomados intelectuais e lutadores da “Descolonização do Poder e Saber”. Ali estavam Blanca Chancoso (Equador), Boaventura de Souza Santos (Portugal), Miguel Palacin – CAOI, Peru), Immanuel Wallerstein (Estados Unidos), Mario Palacios (CONACAMI – Peru), Aníbal Quijano ( Universidades de Binghamtom e San Marcos). Durante algumas horas foram emergindo, como um rio que vai recolhendo seus afluentes para se transformar num grande desaguadouro de idéias e ideais, os desafios e as propostas de Abya Yala para essa nova América e mundo, onde os povos indígenas surgem como atores políticos e protagonistas fundamentais.


Blanca Chancoso fez uma fala incisiva ressaltando o processo histórico de dominação, saque e destruição dos povos indígenas no continente. Porém “estamos vivos, estamos aqui.  Somos originários e temos sabedoria, religião e nossa tecnologia. Somos sujeitos de direitos, como humanos e como povos, direitos coletivos. Vivemos até agora, com ou sem o reconhecimento do poder colonial e atual, e continuaremos contribuindo para a descolonização desse poder. “Não queremos apenas o bem estar de alguns, mas a alegria do bem viver para todos,, em harmonia de povos ‘pachacuti’. Por isso estamos lutando por um novo poder humano, coletivo, solidário e democrático, com a incorporação dos saberes dos diversos povos.


Boaventura de Souza Santos foi muito aplaudido. Suas analises e posturas políticas foram claras no sentido de combate ao imperialismo, no qual os povos indígenas tem hoje um papel fundamental. A luta pelos Estados Plurinacionais é emblemática, na medida em que faz emergir uma nova concepção de Nação, que nasce do povo, suas lutas, seus valores e formas de viver. Falou da necessidade imperiosa de superar  todas as formas de racismo e imperialismo, presentes hoje nos estados nacionais. Isso significa lutar por novas formas de territorialidade e utilização dos recursos naturais.


 “A plurinacionalidade é a causa mais importante na luta de mudanças na América Latina . E disso o império se deu conta. Esta é a razão pela qual estão criminalizando as lutas indígenas e sociais, chamando os que lutam e defendem os direitos dos povos, de terroristas. Por isso acredita que os próximos anos não serão fáceis, não podemos ter ilusões. Diante disso exortou à necessidade dos povos indígenas para a superação das divisões para construir uma unidade maior para o enfrentamento. A necessidade de ampliar as alianças, ressaltando que o Forum Social Mundial tem sido um espaço importante neste sentido. É preciso organizar as diferenças entre os diversos povos construindo alianças continentais.


Aníbal Tejano ressaltou a importância de se estar forjando um novo imaginário anti capitalista. E neste processo “o indígena não é apenas importante para os povos indígenas, para a América Latina, mas é importante para o mundo inteiro”.


Um dos destaques foi a manifestação de solidariedade a processos de mudanças em vários países de Abya Yala Latina, com manifestações de solidariedade com o povo boliviano e seus processos de transformação e enfrentamento com a direita racista.


Com os importantes debates havidos em dois Paineis anteriores, que enfocaram mais as lutas e desafios das comunidades, regiões e povos indígenas nos diversos países, mas particularmente os povos andinos, se reuniram os principais pontos a constarem no documento da Cumbre de los Pueblos Indigenas a ser apresentado e divulgado no dia de Hoje, no início da Cumbre de los Pueblos.


Egon Heck – Cimi


Lima, 13 de maio de 2008

Fonte: Cimi
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