16/04/2008

Terra Livre: é hora de agir!

 


“Não adianta a gente fazer mais um documento e entregar às autoridades. A hora é de agir”. Esse foi o tom predominante nos depoimentos de dezenas de lideranças nesse primeiro dia do acampamento. Um forte sentimento de decepção, indignação e disposição de avançar na luta envolve as mentes, os corações, as falas, as celebrações da luta.


 


O retrocesso com relação à Raposa Serra do Sol atravessa como flecha incendiária o Acampamento. “Vocês não estão sós… contem com a gente… se precisarem lá estaremos com vocês lutando…” essas tem sido algumas da manifestações fortes e inflamadas de solidariedade com a luta indígena em Roraima. O mais grave é que essa decisão do Supremo Tribunal Federal pode significar uma sinalização perigosa de retrocesso para grande parte dos povos indígena no país, que há décadas estão em luta pelos seus direitos, especialmente à terra.


 


Foi lembrada a situação dos Pataxó-Hã-Hã-Hãe, na Bahia, de Nhanderu Marangatu, no Mato Grosso do Sul, dentre outros. Além disso, já foram levantado rumores de retalhamento em ilhas de várias terras indígenas já regularizadas, especialmente na Amazônia, como a TI Yanomami, Alto Rio Negro, Javari.


 


Com a dança do “bate pau”, guerreiros Terena, do Mato Grosso do Sul, fizeram a apresentação como demonstração da disposição de continuarem lutando pela sua terra e apoiando as lutas de todos os parentes em todo o país. Essa foi a fala do cacique Zacarias.


 


A solidariedade indígena latino americana


 


Um dos aspectos relevantes do Acampamento é a socialização das lutas e construção de solidariedade e alianças. Isso significa avançar na articulação e organização para acumular forças e ser protagonistas nos enfrentamentos, na conquista dos direitos e da autonomia. “É hora de animar, hora de avançar, hora de unificar nossas lutas e contar com apoio de sempre mais gente que está lutando nesse país e na América Latina.”


 


Um dos fatos que marcou esse primeiro dia foi a visita e solidariedade trazida por representantes indígenas do México, Nicarágua e Panamá. Eles estão participando da 30ª Assembléia Regional da FAO, organismo da ONU que se preocupa com a questão de fome e alimentação no mundo,  que está acontecendo há poucos metros do acampamento no Palácio Itamarati.


 


Eles são parte da representação da sociedade civil, que pela primeira vez conquistou um número de 50 representantes nesse fórum dos representantes dos governos dos paises da América Latina e Caribe. Nas suas falas, todos ressaltaram a importância de articular as lutas em Abya Yala (América) pela vida e pelos direitos dos povos indígenas “Vocês não estão sós. A vossa dor é também a nossa. Vamos juntos lutar contra os sistemas de morte, pela vida”. Manifestaram a solidariedade dos povos de seus paises com os povos indígenas no Brasil, submetidos a tão graves violências. “Somos solidários com vocês”.


 


O novo movimento indígena


 


Nas falas dos líderes das organizações indígenas regionais foi ressaltada a importância de consolidar o processo de organização e articulação desde as comunidades até em nível nacional e continental. Foi ressaltada a importância do trabalho e responsabilidades assumidas coletivamente, onde não se destaquem “pessoas”, mas o trabalho conjunto. Também foi lembrado de que se tantas lideranças hoje estão aqui reunidas é graças à resistência e até mesmo a vida doada por tantas lideranças durante essas últimas décadas.


 


As afirmações de que está se forjando um “novo movimento indígena”, no Brasil, sempre foram acompanhadas do reconhecimento das lutas já travadas e da importância de estar embasado na cultura e organização dos diversos povos. Ao dar algumas características desse novo movimento foi ressaltada a importância da participação e contribuição das mulheres através de seus diversos processos organizativos e de presença nas lutas. Também foi mencionada a participação dos jovens e especialmente dos professores e agentes de saúde, enquanto movimentos de expressivo acúmulo de conhecimentos e contribuições na luta.


 


 


Egon Heck


Cimi MS


Brasília, 16 de abril 2008

Fonte: Cimi
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