Nota do Cimi sobre conflito envolvendo povo Apinajé
O Conselho Indigenista Missionário – Regional Goiás Tocantins vem a público informar que, no dia 15 de dezembro, indígenas do povo Apinajé das aldeias Cocalinho e Buriti Comprido encontravam-se reunidos na aldeia Buriti Comprido, numa confraternização de encerramento do ano letivo.
Por volta das 16h30min esta comunidade foi surpreendida por cinco homens encapuzados e armados, que adentraram o pátio da aldeia atirando para o alto e para os lados, momento em que, crianças, mulheres, homens e também idosos se jogavam no chão para fugir das balas. Enquanto isso, um dos homens encapuzados se dirigia a um trator que se encontrava retido na aldeia.
Este episódio assustou os indígenas. Houve correria, confusão e muitos indígenas fugiram e se esconderam na mata. Um indígena foi ferido por uma bala. Quando as munições dos invasores acabaram a comunidade os rendeu e, ainda assustada pelos tiros, revidou a invasão e os ataques. O ato resultou na morte de quatro dos invasores – conseqüência que não era desejada pelas lideranças do povo que lamentou o desfecho do conflito.
A aldeia Cocalinho havia detido um trator do município de Cachoeirinha (TO), desde novembro, como exigência de que o prefeito cumprisse promessas feitas à comunidade, tais como: a construção de uma estrada que dá acesso à ponte Ribeirão dos Caboclos e a instalação de energia elétrica na aldeia.
Segundo informação de liderança indígena Apinajé, no dia 12/12, três dias antes da invasão, o prefeito Messias de Oliveira (PT) e oito homens chegaram à aldeia Cocalinho, de forma intimidatória tentando pressionar a comunidade a entregar o trator. A comunidade resistiu e disse que ele só seria entregue quando as promessas fossem cumpridas. Esta mesma liderança informa que os homens saíram indignados, dizendo que iam dar um “jeito”.
Sem uma Ação Judicial para que pudessem resgatar o trator, os invasores articularam um ato de total irresponsabilidade que ocasionou a tragédia. Com a cópia da chave, durante a invasão, um dos encapuzados conseguiu levar o trator em meio a gritos, tiros e mortes na aldeia.
O conflito do último sábado (15) se insere num contexto de tensão. Os Apinajé agiram para se defender diante de invasores. A comunidade encontra-se triste, assustada, chocada e revoltada, em situação de abandono e insegurança, por parte do Estado brasileiro.
Indígenas de nove aldeias, num total de 480 pessoas foram levados para a aldeia São José, onde se concentram hoje, aproximadamente, 1021 pessoas, que deixaram para trás seus pertences, animais domésticos e roças.
Esta aldeia não está dotada de infra-estrutura de saneamento, moradia, saúde e transporte para abrigar tantas famílias. Basta recordar que em menos de dois anos morreram 13 crianças devido às condições insalubres desta aldeia.
Diante do exposto, solicitamos às autoridades competentes que providências sejam tomadas para que a paz se restabeleça no território Apinajé, assim como suas necessidades básicas sejam atendidas, tendo em vista que o povo se encontra sem condições de circular nas cidades para comprar alimentos e ter acesso a serviços.
Conselho Indigenista Missionário
Regional Goiás/Tocantins