Monumento à insanidade
Quando as comportas da hidrelétrica de Balbina, no município de Presidente Figueiredo-AM, foram fechadas nos idos da década de 1980, já nos estertores da ditadura militar, um estudioso da região, olhando para aquele desastre anunciado dizia: “Um dia essa monstruosidade ficará como monumento à insanidade”.
E a obra que gerou fortunas para as empreiteiras, engoliu milhares de quilômetros quadrados de floresta (é um dos maiores lagos do país), expulsou milhares de ribeirinhos e índios Waimiri Atroari, produziu um impacto monstruoso para gerar umas migalhas de energia ( isso quando funciona, pois às vezes necessita receber energia para não ficar no escuro!). Isso por algum tempo ainda. E a profecia do monumento à insanidade parece estar cada vez mais próxima.
Mas pouco aprendemos com a história dos descalabros nesse país. Novo milagre de desenvolvimento é anunciado. O PAC está aí e as grandes empreiteiras mais vorazes do que nunca. O Exército é mobilizado e os tanques vão às obras. Danem-se as mil e uma razões para não agredir ainda mais o velho Chico na UTI. Pouco importa jejuns, orações, reverências, preces e lutas inglórias e sedentas. O sertão será rasgado e as águas deverão rolar para produzir o máximo de lucros, “desenvolver o nordeste”!
A prepotência do capital e do poder não dialogam, impõem. Não entendem outras lógicas, que não o da acumulação. A ela e somente a ela reverenciam e prestam fidelidade.
Os povos indígenas, os Truká, os Tumbalalá e outros tantos que terão seus territórios mais uma vez rasgados, qual veias abertas por onde correrá seu sangue, por interesses alheios e contrários a seus direitos.
O jejum silencioso de Dom Luiz, alimentado por milhões de vidas lutadoras por esse país e mundo afora, são blindados pelos interesses do poder, e a grande mídia silencia. Mas os pequenos veios de água que conseguem furar a barragem, poderão mina-la e as águas revoltas voltarão a seu leito.
Quantos monumentos à insanidade ainda virão?
Egon Heck
Cimi Regional Mato Grosso do Sul