29/11/2007

Informe 794: D. Luiz Cappio retoma jejum contra a transposição do São Francisco

 

Desde 27 de novembro, Dom Luiz Flávio Cappio, bispo da diocese de Barra (Bahia), retomou sue jejum em protesto contra o projeto de transposição do rio São Francisco. Em carta enviada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ele afirma que só sairá do jejum quando as obras forem suspensas.

 

Na carta, ele afirma que o presidente enganou a ele e a toda a sociedade, pois não honrou o compromisso assumido em outubro de 2005. Na ocasião, Dom Cappio suspendeu um jejum de onze dias, após Lula ter se comprometido a suspender o processo da transposição e iniciar um amplo diálogo sobre o projeto com a sociedade.

 


“Durante dois anos a gente tentou viabilizar os termos do acordo, mas o governo se manteve surdo ao que havíamos combinado”, disse Dom Luiz, em entrevista ao Cimi. Ele afirma que a transposição não atenderá os pobres, como Lula tem anunciado. “Se o objetivo fosse atender os pobres, o governo teria concluído outras obras no Nordeste que beneficiariam realmente a população. Existem grandes interesses econômicos, o objetivo não é o povo, não”, completou.


 


Na “Carta ao Povo do Nordeste”, divulgada hoje (29/11), Dom Luiz lembra que há 70 mil açudes no semi-árido, com capacidade de 36 bilhões de metros cúbicos de água, mas não há canais que levem essa água a quem precisa. Ele afirma que levar a água do São Francisco vai estabelecer a cobrança pela água no Nordeste. “O povo, principalmente das cidades, é quem vai subsidiar os usos econômicos, como a irrigação de frutas nobres, criação de camarão e a produção de aço, destinadas à exportação”, diz a Carta.


 


Alternativas e Apoios


Na avaliação de Dom Luiz, a melhor alternativa para a população do semi-árido são as 530 obras sugeridas pela Agência Nacional de Águas (ANA) em seu Atlas do Nordeste e que abasteceriam os 1,3 mil municípios da região a um custo de R$       3,6 bilhões (quase metade dos R$      6,6 bilhões da transposição), além das experiências da Articulação do Semi-Árido e de projetos como o “Um Milhão de Cisternas”.


 


Dom Luiz está recolhido na Capela de São Francisco, no município de Sobradinho (Bahia), às margens do rio, cujas águas são seu único alimento nos últimos três dias. A toda hora, pessoas de Sobradinho, Juazeiro, Petrolina, Cabrobó, Recife, Feira de Santana, Sergipe, Salvador e outras localidades, chegam para conhecer e prestar apoio a Dom Luiz. 


 


Várias entidades e movimentos também estão apoiando Dom Luiz, entre elas: MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens), MPA (Movimento dos Pequenos Agricultores), MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), CPT (Pastoral da Terra), Cimi (Conselho Indigenista Missionário) e Cáritas Brasileira.


 


 


As manifestações de solidariedade comovem Dom Cappio, como a de Dom Pedro Casaldaglia, da prelazia de São Felix do Araguaia, que falou com ele pelo telefone. Padres da região e o bispo da Diocese de Juazeiro (Bahia), Dom José Geraldo, mantêm contatos constantes. Pelo menos quatro religiosos, fazem jejuns que devem durar de um a dois dias, em solidariedade e apoio ao bispo.


 


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Crianças Guajajara morrem por falta de assistência no Maranhão


 


Desde janeiro de 2007, morreram 16 crianças do povo Guajajara, da terra Araribóia, próximo a Amarante, no Maranhão. Somente na semana passada, entre 19 e 25 de novembro, quatro crianças faleceram. A escassez e a poluição da água são os principais fatores que ocasionam estas mortes.


 


Até o momento, a causa da morte das quatro crianças é desconhecida. Todas apresentaram sintomas de febre alta, vômitos e diarréia. Atualmente, há dez casos constatados de crianças com os mesmos sintomas.


 


Em muitas aldeias da terra não há sistema de água, os Guajajara usam poços artesanais que eles cavam – o chamado cacimbão. Eles temem que a água esteja transmitindo as doenças.


 


O povo já pediu que Fundação Nacional de Saúde (Funsa) envie uma equipe especializada para fazer o diagnóstico da situação e orientar o tratamento, mas até agora nenhuma providência foi tomada. Ainda não há um número total das crianças que estão doentes nas aldeias. Surama Guajajara, preocupada com a situação, se pergunta “quando serão tomada as devidas providências? Quantas crianças temos que perder para que as providencias sejam tomadas?”.


 


Para a técnica de saúde, Suluene Santana da Silva, é necessária uma ação emergencial, pois desde 2002 casos como estes vêm ocorrendo na região e nenhum trabalho de prevenção foi feito.


 


A equipe do Cimi na região, com o apoio da comunidade indígena do Posto Indígena Lagoa Comprida, entrou hoje, 29 de novembro, com uma representação no Ministério Público Federal de Imperatriz, solicitando que a Funasa mande uma equipe para a área e construa poços artesianos – o mais breve possível para evitar a morte de mais crianças.


(Equipe Amarante – Cimi Maranhão)


 


Brasília, 29 de novembro de 2007


www.cimi.org.br


Conselho Indigenista Missionário

Fonte: Cimi
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