Carta de Dom Cappio
Barra – Bahia
4 de outubro de 2007
Festa de São Francisco
Senhor Presidente,
Paz e Bem!
No dia 6/10/05, em Cabrobó, Pernambuco, assumimos juntos um compromisso: o de suspender o processo de Transposição de Águas do Rio São Francisco e iniciar um amplo diálogo, governo e sociedade civil brasileira, na busca de alternativas para o desenvolvimento sustentável para todo o semi-árido. Diante disso suspendi o jejum e acreditei no pacto e no entendimento.
Dois anos se passaram, o diálogo foi apenas iniciado e logo interrompido.
Já existem propostas concretas para garantir o abastecimento de água para toda a população do semi-árido: as ações previstas no Atlas do Nordeste apresentada pela Agência Nacional de Águas (ANA) e as ações desenvolvidas pela Articulação do Semi-Árido (ASA).
No dia 22 de fevereiro de 2007 protocolei no Palácio do Planalto documento solicitando a reabertura e continuidade do diálogo, e que fosse verdadeiro, transparente e participativo. Sua resposta foi o início das obras de transposição pelo exército brasileiro.
O senhor não cumpriu sua palavra. O senhor não honrou nosso compromisso. Enganou a mim e a toda a sociedade brasileira.
Uma nação só se constrói com um povo que seja sério, a partir de seus dirigentes. A dignidade e a honradez são requisitos indispensáveis para a cidadania.
Portanto, retomo o meu jejum e oração. E só será suspenso com a retirada do exército das obras do eixo norte e do eixo leste e o arquivamento definitivo do Projeto de Transposição de águas do Rio São Francisco. Não existe outra alternativa.
Acredito que as forças interessadas no projeto usarão de todos os meios para desmoralizar nossa luta e confundir a opinião pública. Mas quando Jesus se dispôs a doar a vida, não teve medo da cruz. Aceitou ser crucificado, pois este seria o preço a ser pago.
A vida do rio e do seu povo ou a morte de um cidadão brasileiro.
“Quando a razão se extingue, a loucura é o caminho.”
Que o Deus da Vida seja penhor de Vida Plena.
“O Brasil é uma terra de grandezas. Terá dirigentes com a mesma grandeza?”
(Bourdoukan Georges in “Capitão Mouro”)
Dom Frei Luiz Flávio Cappio, OFM
Bispo Diocesano de Barra