22/11/2007

Informe no 793: Quatro Guarani são baleados em despejo organizado por fazendeiros no Mato Grosso do Sul

No dia 17 de novembro (sábado), quatro Guarani Kaiowá foram baleados numa ação de despejo organizada por fazendeiros no sul do Mato Grosso do Sul, próximo ao município de Amambai. Duas pessoas deste mesmo grupo já morreram em 2007 devido à luta pela terra.


Um grupo de cerca de 100 Guarani havia retomado parte de sua terra tradicional, chamada Kurussu Ambá, na quinta-feira, dia 15 de novembro. Eles chegaram a montar algumas barracas na área, sob vigilância de seguranças dos fazendeiros.


 


No sábado, alguns fazendeiros acompanhados de seguranças tentaram fazer um acordo com os indígenas. Eles ofereceram uma vaca e algumas cestas básicas para que os Guarani deixassem a área. Segundo uma das lideranças da comunidade, eles não aceitaram a oferta, mas temendo serem expulsos com muita violência, pediram um caminhão para que os fazendeiros os levassem de volta para a aldeia Taquapery, onde eles estavam antes.


 


A viagem de volta, foi acompanhada por Christiano Bortolotto, presidente do Sindicato Rural de Amambai, em uma caminhonete. Ao desembarcarem do caminhão, tiros foram disparados na direção dos indígenas. Angélica Barrios de 22  ficou no hospital até hoje pela manhã, quando voltou para a aldeia. Os outros três demais Guarani feridos voltaram à aldeia no domingo. Na confusão, uma das pessoas que atacava os indígenas também ficou ferida.


 


Após o confronto, os indígenas registraram um Boletim de Ocorrência na Polícia Civil de Coronel Sapucaia. O procurador Flávio Reis, do Ministério Público Federal em Ponta Porã, na terça-feira (20), solicitou que a Polícia Civil encaminhe o caso para a Polícia Federal. Após o depoimento dos primeiros envolvidos, que deve ocorrer até o fim da semana, o caso seguirá para a PF. Até agora, nenhum indígena foi ouvido.


 


No próximo sábado (24/11), uma comissão com representantes do Centro de Direitos Humanos Marçal de Souza, da Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS-MS), da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e de outras entidades visitará o acampamento onde os Guarani estão. Além de prestar solidariedade, eles irão recolher depoimentos dos indígenas sobre os fatos e registrar em vídeo a realidade destas famílias Guarani.


 


Ontem (21/11), a Funai enviou alguns mantimentos para os Guarani. Os indígenas também pediram lona, pois muitas pessoas, entre elas crianças e gestantes, estão expostas à chuva. Até hoje, 22/11, a Funai ainda não havia ido até o acampamento dos Guarani. 


 


Em janeiro, estas famílias Guarani  já haviam tentado retomar Kurussu Ambá. Naquela ocasião, os fazendeiros também agiram como se tivessem poder de polícia e, durante o despejo, seguranças contratados por eles mataram a rezadeira Xurete Lopes, de 70 anos. Em julho, Ortiz Lopes foi assassinado na porta de seu barraco por uma pessoa contratada por fazendeiros da região, segundo testemunhas.


 


***


 Os Tupinikim e os Guarani começam a recuperação ambiental de sua terra no Espírito Santo


 


Nos dias 15 e 16 de novembro, aconteceu o II Encontro “Replantar nossa Esperança” na aldeia Pau Brasil, em Aracruz, no Espírito Santo. O evento iniciou o processo de recuperação ambiental da terra dos Tupinikim e dos Guarani, devastada por anos de monocultivo de eucalipto, plantados pela empresa Aracruz Celulose. 


 


Após conquistarem sua terra tradicional, que foi declarada como indígena em setembro deste ano, os povos precisam reorganizar e recuperar ambientalmente um ecossistema degradado pelo monocultivo de eucalipto, com os mananciais secos e o solo envenenado pelos agrotóxicos. No Encontro, os Tupinikim e os Guarani trocaram idéias sobre recuperação ambiental com outros povos indígenas e comunidades tradicionais.


 


Participaram do encontro mais de 150 pessoas das sete aldeias Tupinikim e Guarani, além de lideranças Pataxó (da Bahia), representantes de comunidades tradicionais do Rio Pardo (Minas Gerais) e de várias entidades.


 


Os Pataxó falaram sobre suas experiências de preservação e recuperação ambiental e sobre as ameaças da empresa de celulose Veracel. Uma estratégia da Veracel para avançar com o monocultivo de eucalipto é tentar cooptar lideranças com oferta de dinheiro.


 


Os representantes do Cimi Leste apresentaram a experiência Tupinambá da implementação de sistemas agroflorestais e a experiência Maxakali da “Volta da Mata”, que, através de práticas agroecológicas, favorece a sucessão natural da floresta. Jovens Tupinikim falaram da experiência do viveiro da aldeia Pau Brasil.


 


O monocultivo de eucalipto também ameaça a sobrevivência de outras comunidades tradicionais, como os Geraizeiros. As empresas, que plantam eucalipto para produzir carvão, como a Gerdão, Floresta Minas, Replasa, V & M Florestal e  Sidersa ocupam milhares hectares no norte de Minas Gerais, despejando os moradores das suas áreas. A comunidade Geraizeira Vereda Funda de Rio Pardo de Minas retomou uma área de 6.000 hectares e começou a reflorestar, com plantas nativas do cerrado, áreas que eram exclusivamente do eucalipto.


 


Os participantes do Encontro destacaram que se deve desconstruir os conceitos já pré-estabelecidos de “agricultura moderna” e reconstruir uma relação amorosa com a mãe terra, respeitando a biodiversidade. Também lembraram que a recuperação ambiental deve ser tratada na educação escolar indígena.


 


No fim do evento, um mutirão com mais de 60 pessoas plantaram cerca de 2.000 mudas de espécies nativas em dois hectares da terra. No fim da tarde, uma forte chuva caiu e todos emocionados lembravam que “Deus- Nhanderu está no nosso lado, estamos no caminho certo!”.


 


(Markus Breuss – Cimi Leste)


 


Brasília, 22 de novembro de 2007


www.cimi.org.br


Conselho Indigenista Missionário

Fonte: Cimi - Assessoria de Imprensa
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