Davi Kopenawa é ameaçado de morte por fazendeiro
O líder Yanomami Davi Kopenawa, presidente da Hutukara Associação Yanomami (HAY), enviou carta ao procurador geral da República em Roraima, Antônio Morimoto, pedindo proteção e garantias de vida diante da ameaça que teria sido feita por fazendeiro da região de Ajarani, que se localiza na Terra Indígena Yanomami.
Uma das mais importantes lideranças do povo Yanomami, Davi Kopenawa, está sob ameaça. Por conta da denúncia, feita por padre Laurindo, da Missão Catrimani (RR), Davi kopenawa encaminhou no dia 8/11 carta ao procurador pedindo investigação e garantias de vida. Leia abaixo a íntegra do documento.
Oficio nº. 072/2007.
Boa Vista-RR, 08 de novembro de 2007
Assunto: Denúncia de ameaça de morte a liderança Davi Kopenawa Yanomami
Ao Sr. Antônio Morimoto
Procurador Geral da República – MPF/RR
Vimos comunicar a Vossa Senhoria, que durante período de 19 a 24 de outubro de 2007 realizamos Assembléia Regional Yanomami na Missão Catrimani, com a participação de representantes do: Ministério Público Federal, Funai Nacional e coordenação regional, Ibama, Instituto Chico Mendes, Secretaria Estadual de Educação, Diocese de Roraima, Conselho Indígena de Roraima, CCPY e aproximadamente oitenta representantes de 19 comunidades Yanomami.
Nesta ocasião discutimos vários assuntos do interesse do Povo Yanomami como: Educação, Saúde, Mineração, Proteção da Terra Indígena Yanomami, Organização Indígena Yanomami entre outros. Durante a Assembléia o Padre Laurindo, coordenador da Missão Catrimani fez a seguinte denuncia: “… os Yanomami que estão aqui são fortes contra fazendeiros, mas em Ajarani eles não querem nem vir para assembléia Geral Yanomami, eles estão entre os fazendeiros e tem que se defender, inclusive fazendo aliança, os fazendeiros dão comida, sal, açúcar, leite. Para os Yanomami ele é muito amigo do Emílio Paludo e ele disse que tem foto, ele disse que se a Funai tirar ele da área ele irá matar o Davi Kopenawa Yanomami, o Padre Laurindo e o Gonçalo Teixeira…” .
Diante desta denúncia, vimos solicitar que sejam tomadas as devidas providencias para averiguar a ameaça e caso necessário seja providenciado proteção ao líder Davi Kopenawa Yanomami. Aproveitamos para comunicar que no período de 22/11 a 03/12 será realizada uma Assembléia Regional no Ajarani, região da Terra Indígena Yanomami que se encontra invadida pelo fazendeiro que teria ameaçado a liderança Yanomami, por isso solicitamos a proteção da Polícia Federal durante esta atividade. Sem mais agradecemos o apoio.
Atenciosamente,
DAVI KOPENAWA YANOMAMI
Presidente da HAY
Sobre a região de Ajarani
Em abril deste ano, em entrevista ao boletim da Comissão Pró-Yanomami (CCPY), Davi, que estava participando do Abril Indígena, em Brasília, se referiu à invasão de fazendeiros na região: “Falei também dos fazendeiros da região do Ajarani (dentro da terra indígena). Isso já está na justiça, só estamos esperando que a Funai vá lá tirar. O presidente da Funai já sabe, não podem ficar lá, a terra está homologada e eles não podem ficar por lá”.
Os Yawaripé, subgrupo Yanomami, sempre viveram nessa região. Pressionados pela construção da rodovia Perimetral Norte, na década de 1970, e por seguidas invasões de suas terras, muitos morreram de doenças e tiveram seu modo de vida tradicional desestruturado. Até mesmo um distrito agropecuário foi criado pelo Incra em suas terras, em 1977. Os índios resistiram e passaram a disputar a posse da terra e dos recursos naturais com os intrusos que continuaram na área, ampliaram as benfeitorias e reivindicaram a propriedade da terra, ignorando a demarcação (1991) e homologação (1992) da região, parte integrante da Terra Indígena Yanomami. Finalmente, em maio de 2004, a 5ª Turma do Tribunal Regional Federal reconheceu que as terras região do Ajarani, no município de Caracaraí (RR), no extremo leste da Terra Indígena Yanomami, pertenciam aos Yawaripë. Essa área, também conhecida como Repartimento, vinha sendo reivindicada pelos fazendeiros Walter Miranda e seu filho, Walter Miranda Júnior, Miguel Schultz e Ermilo Paludo.