Mentiras deslavadas sobre Toldo do Umbu
“O relator acrescentou ainda que não há indícios históricos de que a área tenha sido ocupada por etnias indígenas, “pois essas terras foram tituladas há mais de um século pelo Estado do Paraná, consideradas à época terras devolutas”, explicou”.
(Deputado Valdir Colatto -Aconteceu – 18/10/2007)
O velho Otavio Belino, já curvado pela idade, não segurou as lágrimas. “Aqui eu nasci, aqui minha mãe enterrou meu umbigo e plantou esse pé de umbu”. Era um dia quente de outubro de 1976. Um grupo de velhos Kaingang retornavam ao local donde haviam sido expulsos e onde vinham fazer os Kiki, rituais de seu povo.
Na década de 50 inescrupulosos funcionários do SPI se encarregaram de fazer o trabalho sujo de retirar à força, amarrados, os últimos Kaingang que resistiram no “Toldo do Umbu”, um toldo velho na região em que milhares de anos viveram tranqüilos os Kaingang, até que os invasores chegaram. Jogados na Terra Indígena Xapecó, ali permaneceram os Kaingang, até o momento de recobrarem forças e voltarem à sua terra.
O velho Otavio Belino, juntamente com Vicente Fokei e outras velhos contaram como foi brutal a retirada deles do toldo do Umbu. Chegou o funcionário do SPI com capangas e foram jogando os pertences dos índios emcima de um caminhão. Os que se opuseram a embarcar, foram amarrados e jogados na carroceria. Foi o que aconteceu com seu Otávio, que era o capitão-cacique do grupo.
É de doer a alma ouvir de parlamentares, que no mínimo deveriam ser bem informados, virem a público vomitar tamanhas mentiras como “não há indícios históricos de que a área tenha sido ocupada por etnias indígenas”. Chega de cinismo e hipocrisia. Se querem negar aos verdadeiros donos o direito sagrado à sua terra o façam assumindo perante a história e o mundo o descaramento de estarem negando ao um povo seu direito constitucional.
Aos nobres e bravos Kaingang, minha admiração, respeito, solidariedade e total apoio à luta pela sua terra! Tomei muito chimarrão nos seus ranchos, enquanto contavam as histórias das violências, expulsões, exploração e saque de seus recursos, especialmente os grandes pinheirais. Deles recebi o nome de “Goy kupri”, pela já falta de cabelos na cabeça. Com eles aprendi a admirar a beleza e grandeza da alma simples, para quem a vida é tudo e a terra é mãe.
Certamente todos esses anos de exílio e de luta não irão cair diante da ganância inescropulosa de alguns. Se houve erros e cumplicidade por parte de governos, que esses sejam responsabilizados em resolver a questão e não fiquem privando os Kaingang a seus sagrados espaços de terra para viver com dignidade!
Egon Heck
Cimi MS
Campo Grande