Moradia para os Guarani
Resultado da solidariedade de pessoas e entidades, a iniciativa da Ação Solidária Madre Cristina está possibilitando que indígenas Guarani acampados em beiras de estrada possam ter melhores condições de moradia no Rio Grande do Sul. Até o final do ano, a organização deve construir 32 casas de madeira para indígenas das aldeias de Petim, em Guaíba, e de Passo Grande, em Barra do Ribeiro, a pouco mais de 27 km e de 56 km de Porto Alegre (RS), respectivamente. As famílias estão em regiões de conflito, já que consideram as áreas como tradicionais e lutam, há 27 anos na Aldeia de Petim e há 15 anos na Aldeia de Passo Grande, para que sejam demarcadas pelo governo federal.
A idéia de construir casas para as famílias partiu de uma parceria entre o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e a Ação Solidária Madre Cristina. As duas organizações realizaram um jantar no mês de maio para arrecadar fundos. Também receberam contribuições financeiras da Federação dos Metalúrgicos do Rio Grande do Sul, do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre e de um casal de juristas que não quis se identificar. Cada casa, que é feita de madeira de eucalipto, custa em torno de R$ 2,9 mil.
O cacique Mariano, da Aldeia de Passo Grande, relata que a vida das famílias indígenas é muito penosa nas beiras de estrada. Eles vivem em barracos de lona e de plástico, pois na região há pouca taquara e bambu, que são utilizados para a confecção de artesanato. “Por isso é que precisamos de casas de madeira, como a dos brancos. Com essas casas, ficaremos resguardados dos temporais de vento e de chuva. Sofremos muito nesse acampamento, mas é o lugar que temos para morar”, diz.
Os indígenas de Passo Grande estão vivendo há 15 anos na beira da BR-116, pouco antes da entrada de Barra do Ribeiro. Mariano conta que eles viviam em São Miguel das Missões, reduto indígena no Rio Grande do Sul, mas vieram para a Capital por não terem terra onde plantar. Agora no local eles têm um terreno de cerca de 1,5 are, que foi doado por um agricultor da região, onde plantam produtos para a subsistência, como milho, melancia e aipim. No entanto, a comida produzida não é suficiente para as oito famílias que vivem na aldeia. Os indígenas também confeccionam cestos de taquara e vendem na beira da estrada como forma de agregar renda, mas o dinheiro arrecadado é pouco.
“O branco ajuda muito pouco. A alimentação, que ganhávamos do governo do Estado, parou de nos ser fornecida por falta de dinheiro e também porque ainda não temos terra demarcada. Mas o governo federal também não devolve a terra que era nossa”, reclama Mariano. Os indígenas recebem, ainda, assistência médica prestada pela Fundação Nacional de Saúde (FUNASA), que faz visitas periódicas às aldeias.
Integração
O projeto das casas da Ação Solidária Madre Cristina não somente ajuda os indígenas, como gera renda e trabalho e integra as lutas dos povos branco e índio. As casas estão sendo construídas através das frentes de trabalho do Movimento dos Trabalhadores Desempregados (MTD) do Rio Grande do Sul. Cada casa emprega quatro famílias de trabalhadores do Movimento e conta também com o mutirão dos índios de várias aldeias da região.
Além do emprego, outro ponto positivo é a integração de povos que, apesar de diferentes culturalmente, possuem objetivos parecidos. Indígenas e desempregados lutam para que tenham melhores condições de vida e que as peculiaridades culturais de cada um seja respeitada. “Para nós, do MTD, é um orgulho construir as casas para os índios. É importante que nos unamos e ajudemos outras pessoas que também precisam. Além disso, a luta dos indígenas e dos desempregados é muito parecida e somente através da união é que conseguiremos melhores condições de vida“, opina Edson Vanderlei, morador do Belo Monte, assentamento rururbano do MTD em Eldorado do Sul, região metropolitana.
A arquitetura dos casas também respeita a vontade e a cultura dos Guarani. A disposição das janelas, portas e dos cômodos é discutida com cada família que irá morar na casa. Até o momento, foram construídas duas casas, cada em uma das aldeias. Na Aldeia de Petim devem ser construídas 5 casas ao todo, e na de Passo Grande, 4 casas.
Isnar Vieira Borges, integrante da Ação Solidária Madre Cristina, espera que as casas sejam realmente temporárias. “O objetivo do projeto é melhorar a vida dos indígenas enquanto esperam a demarcação de suas terras, que esperamos que seja logo”, diz. Isnar espera que o projeto com os indígenas de Petim e Passo Grande seja o primeiro de muitos outros que possam ser implementados. “Queremos provocar na sociedade civil o espírito solidário, que as pessoas se mobilizem e apóiem o projeto, praticando assim a solidariedade e melhorando a vida do povo”, afirma.
Para mais informações sobre o projeto das casas para indígenas ou doações pode-se entrar em contato com a Ação Solidária Madre Cristina, pelo correio eletrônico [email protected] ou pelo telefone (51) 3228 0211.