03/10/2007

Sétima edição da Caminhada dos Mártires Tupinambá fortalece luta do povo

Com um forte apelo pela imediata resolução da questão de seu território e muitas reivindicações de cunho ambiental, cerca de 500 Tupinambá marcharam, no dia 30 de setembro, de forma animada e decididos pelos 8 km que separam a Vila de Olivença até a Praia do Cururupe, no sul da Bahia,


 


Concentrados na Praça Cláudio Magalhães no centro de Olivença, há cerca de 450 km de Salvador, os Tupinambá, aos poucos recebiam seus parentes, convidados, aliados e parceiros para a realização, pelo sétimo ano consecutivo, da Marcha dos Mártires Tupinambá. E eles foram chegando, primeiro os parentes Tupinambá, depois os Tupiniquim do Espírito Santo; Pataxó Hã-Hã-Hãe de Pau Brasil, Pataxó do Extremo sul e os parceiros: CIMI, CPT, FASE/ES, CETA, CEPEDES, Conselho de Cidadania da Paróquia Santa Rita, Sindicatos, Diocese de Itabuna e Ilhéus, Movimento dos Quilombolas, Universitários, CEB’s, entre muitos que foram se somando e se solidarizando com os Tupinambá.


 


Por volta das 9 horas da manhã, depois de um intenso Porancim (ritual sagrado) e da benção do Padre Paulinho (vigário de Olivença), começou a sétima Marcha. À frente da caminhada, crianças carregavam faixas com as diversas reivindicações do povo Tupinambá. Tais como: “Governantes, respeitem nossos direitos”; “Saúde e Educação diferenciada para o povo Tupinambá”; “Demarcação do nosso Território , JÁ”; “Secretario da Educação, a Lei 6001, garante uma educação diferenciada, Respeite nosso direito”; “Nossas Nascentes pedem socorro, preservem a natureza”. Faixas de protesto contra o tratamento dispensado pela Fundação Nacional de Saúde (Funasa) à comunidade Tupinambá e muita outras.


 


Como estava estampada na faixa de abertura da “7ª Peregrinação dos Índios Tupinambá de Olivença! Reverência e Respeito à Memória dos Mártires” , a caminhada anual pretende lembrar e reverenciar um massacre de Tupinnambás ocorrido em 26 de setembro de 1937, às margens do Rio Cururupe em Ilhéus, conhecido pelos mais velhos com a “Última revolta do Caboclo Marcelino”. O movimento insurgente que ficou conhecido como a Revolta do Caboclo Marcelino começou em 1929, conforme relata a dissertação “Os índios  na área dos Coronéis do Cacau” da professora e antropóloga Maria Hilda Paraíso:


 


“A construção da ponte sobre o rio Cururupe teve reflexos graves aos índios de Olivença… a reação dos “caboclos” de Olivença terminou por se processar em 1929, sob o comando de Marcelino, o seu líder. Argumentando a necessidade de recuperar as terras perdidas e de expulsarem os atuais ocupantes das antigas aldeia… A reação (das autoridades da época) foi imediata e, em novembro de 1929, uma caravana de praças e de inspetores de quarteirão deslocou-se para o Cururupe iniciando a repressão aos revoltosos… O Governo venceu e instalou-se a linha Ilhéus/Olivença usando caminhões como veículos”.


 


 


Este fato foi citado por Dona Nivalda (mãe da cacique Valdelice) na manifestação no final desta sétima peregrinação.


 


A Caminhada já vem acontecendo há sete anos, mas este ano ela foi agregada com a presença de outros povos, e em especial a presença dos representantes dos tupiniquim, povo que é constantemente citado nos relatos de historiadores e antropólogos como povo originário desta região, e que também foram vitimas da sanha e ganância dos invasores destas terras.   


 


Nas falações finais dos representantes indígenas e de seus parceiros duas questões se destacaram: a necessidade de união do povo e a luta pelo território e seus direitos. Os caciques Tupinambá que usaram da palavra exigiram que a “Funai cumpra com a sua obrigação de forma mais rápida possível na publicação do relatório de identificação do nosso território  ou as retomadas continuarão acontecendo com forma de pressionar  para que os nossos direitos venham a ser respeitados”


 


Vale lembrar que, só nos últimos dois meses, o povo Tupinambá já realizou 4 retomadas, sendo a última dela as vésperas da caminhada (dia 29 de setembro) na região conhecida como Porto da Lancha, no quilômetro 12 da rodovia Ilhéus x Olivença. Dentre os motivos da retomada, a necessidade de pressionar a Funai a cumprir com o seu papel, conforme documento enviando à imprensa e às entidades de apoio.


 


Itabuna, 01 de outubro de 2007


Conselho Indigenista Missionário


 

Fonte: Cimi - Itabuna
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