20/09/2007

Informe nº 784: Campanha Povo Guarani, Grande Povo! é lançada no Mato Grosso do Sul

– e Xakriabá é assassinado em Minas Gerais


 


Campanha Povo Guarani, Grande Povo! é lançada no Mato Grosso do Sul


 


Entre os dias 21 e 23 de setembro será lançada a campanha Povo Guarani, Grande Povo! na aldeia Tey´ kue, próximo ao município de Caarapó, no Mato Grosso do Sul. Resultado do fortalecimento da articulação continental dos Guarani, a campanha pretende mostrar à sociedade o valor deste povo e intensificar a luta por seus direitos, principalmente, à vida e à terra.


 


Vivem hoje na América do Sul cerca 225 mil Guarani. Eles estão no Uruguai, Argentina, Paraguai, Bolívia e Brasil. É o povo com a maior população em nosso país; cerca de 50 mil pessoas espalhadas por oito estados (Mato Grosso do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Pará).


 


No Brasil, há muitas referências aos Guarani (na literatura, música, pintura, cinema). Apesar de tão presentes, o povo Guarani permanece praticamente invisível. O que se sabe é que suas crianças morrem desnutridas, suas terras estão invadidas, são vítimas de altos índices de assassinato – enfim, que o Estado desrespeita seus direitos mínimos. Mas mesmo diante desta realidade, o povo Guarani resiste em parte de seu território, inclusive em metrópoles como São Paulo e Porto Alegre. O povo luta para retomar o restante de sua terra, mantém suas crenças, língua, sua economia de reciprocidade, seu jeito de viver.


 


Entre os participantes estarão lideranças Guarani da Assembléia do Povo Guarani – (APG) e Central de Organizações de Povos Nativos Guarayos ambos da Bolívia, Professores e caciques vindos da Argentina, Paraguai, Espírito Santo, São Paulo, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. De outros povos no Brasil, virão lideranças Irantxe e Myky (MT), Kwaza e Migueleno (RO), e Terena (MS).


 


Apóiam o lançamento da Campanha o Centro de Investigação e Promoção do Campesinato – Cipca (Bolívia), Mestres e Dirigentes Guarani e Equipe de Pastoral Aborígene – Endepa (Argentina), Lideranças Guarani e Coordenação Nacional de Pastoral Indígena – Conapi (Paraguai), Comissão de Professores e Lideranças Guarani Kaiowá, Conselho Indigenista Missionário – Cimi, Operação Amazônia Nativa – Opan, Coordenadoria Ecumênica de Serviço – Cese e Norad (Brasil).


 


Histórico da Campanha


 


A partir de 2005, lideranças e organizações indígenas e indigenistas passaram a dialogar possibilidades de ações unificadas. No ano seguinte, realizaram o “Primeiro Encontro Continental Guarani”, em São Gabriel (Rio Grande do Sul), para celebrar a memória e resistência dos povos das 7 Missões e os 250 anos da morte de seu líder, Sepé Tiaraju.


 


Os cerca de 1.500 Guarani do Uruguai, Brasil, Argentina e Paraguai presentes ao encontro tomaram a decisão de recuperar a força de sua organização conjunta e, ao longo do ano, discutiram a realização de uma grande campanha continental.


 


A partir daí, a Comissão de Professores e Lideranças Guarani Kaiowá, junto ao Cimi no Mato Grosso do Sul, tomou a iniciativa de produzir materiais (folder, revista, cartaz e site) para apresentar a realidade do povo Guarani e divulgar a “Carta Compromisso: Yvy Poty. Em defesa da Vida, Terra e Futuro”.


 


Em abril deste ano, foi realizado em Porto Alegre o segundo encontro continental, quando as articulações políticas se intensificaram, assim como o desejo dos Guarani de uma luta ampla e conjunta. A proposta da campanha foi apresentada em plenária e acolhida por todos os presentes.

 

Para mais informações: www.campanhaguarani.org.br






Xakriabá é assassinado em Minas Gerais


 


A vítima, Avelino Nunes da Costa, 40 anos, foi agredida brutalmente por quatro rapazes na madrugada de domingo (16/9), na comunidade de Virgínio, município de Miravânia (Minas Gerais) – limitante da área Xakriabá. Avelino dormia no banco de uma praça, ao voltar de uma festa, e não teve como se defender dos chutes que atingiram sua cabeça.


 


Para a equipe do Cimi Leste, que acompanha as atividades na região, a ação não pode ser considerada um fato isolado. Ela se deu num contexto de luta do povo Xakriabá pela retomada de seu território.


 


Avelino estava diretamente ligado ao processo de luta pela terra. Ele fazia parte do grupo que retomou uma área na região de Dizimeiro, no Vale do Peruaçu, em Abril de 2007. O assassinato demonstra o processo de descaso e discriminação contra o povo Xakriabá, que, na década de 1980, sofreu três mortes relacionadas ao conflito pela terra.


 


Desde o início das ações de retomadas de seus territórios, os Xakriabá sofrem ameaças. Vários boletins de ocorrência foram registrados nas delegacias de São João das Missões, em Manga e Itacarambi. Todas as ocorrências também foram comunicadas ao Ministério Público Federal e à FUNAI, mas nenhuma medida foi adotada.


 


As lideranças se sentem ameaçadas com a falta de proteção do Estado. De acordo Santo Xakriabá, da aldeia Morro Vermelho “se perdurar o descaso da Funai que nos deixou desamparados, outras mortes podem acontecer.”


 


Após o assassinato de Avelino, três agressores foram presos na cidade de Manga (MG). Entre eles dois adolescentes de 15 e 16 anos, e Edson Gonçalves, de 18 anos. Os agressores disseram à polícia que não tinham o objetivo de matar Avelino. Queriam dar um susto, “só espancar, tirar as suas roupas e depois ir embora”.


 


A equipe do Cimi Leste está acompanhando o caso junto à comunidade e às instâncias responsáveis. “A intenção é acompanhar cada passo da Justiça, para que casos como este não fiquem impunes aos olhos da sociedade e das instituições”, declarou Wilson Mário Santana, coordenador do Cimi Leste.


 


Brasília, 20 de setembro de 2007.


 


Cimi – Conselho Indigenista Missionário


 

Fonte: Cimi - Assessoria de Imprensa
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