17/09/2007

Manifestação pública pelo fim do preconceito contra os Guarani em Santa Catarina

Nessa primeira quinzena de setembro de 2007, nossa comunidade e nosso povo, Guarani, foram duramente atingidos por manifestações de preconceito, discriminação e ignorância que beiram a xenofobia. Essas manifestações partiram de representes do poder público e dos trabalhadores da cidade de Gaspar, localizada no Vale do Itajaí, Santa Catarina. O fato começou quando decidimos comprar um pequeno lote de terra no município pra assentar algumas famílias de nossa comunidade.


 


Assim que a prefeitura municipal tomou conhecimento de que estaríamos comprando a terra, publicou um decreto tornando a terra de utilidade pública. Até esse momento o terreno não estava nos planos da prefeitura, bastou que anunciássemos a compra para que o decreto fosse publicado, ficando claro que o objetivo é impedir nossa presença no município. Em seguida aconteceram diversas manifestações no rádio e jornais locais, como da presidente do sindicato dos trabalhadores rurais que insinua que somos ladrões e preguiçoso:  Vamos ter moradores novos em Gaspar. Índios. Será que nós merecemos povo gasparense? (…) O que virão fazer os índios em nossa cidade?. Comer o peixe de quem trabalha de que faz uma lagoa? (…)Não queremos isso, queremos políticas de apoio aos agricultores, que trabalham e merecem apoio”. Além de pronunciamentos de vereadores e do procurador do município, todos contrários a nossa presença no município.


 


Lamentamos esse pensamento mesquinho dessas pessoas. Estamos fazendo uma transação imobiliária conforme os costumes dos Juruá kuery/brancos, que é comprar terra, e não conforme nossos costumes, que é fazer nossos tekoha nas terras sonhadas. Mesmo assim não querem permitir. Estamos usando nosso dinheiro, que conseguimos com a indenização da duplicação da BR 101, portanto não estamos pedindo nada a ninguém, queremos nosso direito como todo cidadão brasileiro.


 


Apesar de a terra ser comprada, vamos usar de nosso jeito tradicional, como nossos velhos ensinaram. Nhanderu/Deus nosso grande pai é quem nos orienta. Começamos pelo respeito à mata, às águas, a terra e a todos os seres que habitam nela. Também aprendemos a respeitar nossos vizinhos. Aprendemos ser tolerantes, partilhar saberes e conhecimentos, nos orgulhamos de ser um povo acolhedor. Em nossas plantações não usamos agrotóxicos ou produtos químicos; as sementes são as verdadeiras, aquelas deixadas por nossos antigos. O rio Itajaí que corta a cidade de Gaspar leva o nome dado por nossos antepassados, será que a prefeitura vai querer mudar também o nome desse rio?


 


Sabemos que o povo de Gaspar nos acolhe. São algumas pessoas e alguns órgãos públicos que tem pensamento preconceituoso. Como a manifestação de preconceito e racismo é crime vamos solicitar ao MPF que ingresse com uma representação contra essas pessoas, pra que essas atitudes não mais se repitam.


 


Aveté Katu (Muito obrigado)


 

Terra Indígena Morro dos Cavalos, Palhoça – Santa Catarina – 14 de setembro de 2007.

Fonte: Cimi SUL
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