03/07/2007

Transposição: Manifestantes repudiam governo federal e patrocínio a campanha de governadores



 


O acampamento na área da tomada de águas do eixo norte, do projeto de transposição, é uma ação integrada entre organizações sociais, movimentos populares, povos e comunidades tradicionais da bacia do rio São Francisco e de outros estados que se solidarizam com a causa. Uma espécie de mutirão que completa uma semana de ocupação pacífica na perspectiva de permanência por tempo indeterminado, com os objetivos de arquivamento definitivo do projeto e a retomada de terras pelos índios Truká.


 


A ação iniciou com 1200 pessoas e em menos de dois dias subiu para 1500, dos estados do Ceará, Pernambuco, Bahia, Sergipe, Alagoas e Minas Gerais. No final da semana, determinadas caravanas, que participaram da ocupação, retornaram para suas regiões no sentido de aumentar a mobilização e reunir outros grupos para aderir à ocupação. Hoje o acampamento conta com cerca de 700 pessoas, a maioria indígenas.


 


Hoje começam a chegar novas caravanas, pelo menos uma de Pernambuco – com gente de Recife, Garanhuns e sertão do Pajeú – e duas do Ceará. Além disso, foi intensificada uma ampla campanha pela manutenção da ocupação.


 


Policia se aproxima de área ocupada


No final da manhã de hoje viaturas da polícia militar começaram a intensificar o trabalho no entorno das fazendas ocupadas. Uma viatura chegou a se posicionar na rodovia principal, em frente à entrada da área ocupada, e mais duas no portão da fazenda que dá acesso ao acampamento.


 


Entretanto, ainda não há nenhuma notificação oficial aos acampados sobre uma possível ação de reintegração. Além disso, o documento expedido pelo juiz da 20ª Vara Federal, Georgius Luís Argentini Principe Credidio, afirma que a ação deve ser comandada pela polícia federal e acompanhada pela Funai.


 


Manifestantes repudiam governo federal e patrocínio a campanha de governadores


Os participantes do acampamento consideram lamentável a informação de que o Ministério da Integração Nacional deverá doar o material da campanha que será deflagrada pelos governadores do Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Ceará. O ato é considerado manipulador e impossível de facilitar o debate amplo e democrático com a sociedade.


 


Seguindo o exemplo dado pelo ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, Eduardo Campos, Cássio Cunha Lima, Wilma Faria e Cid Gomes, atropelam a população, alimentam a discórdia, utilizam o aparato do estado e o mesmo discurso que fomenta a indústria da seca, o de levar água para o povo pobre do Nordeste.


 


A campanha coordenada pelos governadores possivelmente não popularizará os números que cercam o projeto de transposição. O custo de R$  6,6 bilhões a ser utilizado apenas nos quatro primeiros anos e ainda que apenas 4% da água transposta seria destinada à população difusa.


 


Os participantes do acampamento acreditam que os governadores poderão perder o momento ideal para aprofundar o debate sobre as mais de 140 tecnologias de convivência com o semi-árido, a maioria delas reunida e aplicada pela Articulação do Semi-árido (ASA). Além das alternativas apresentadas pelo Atlas Nordeste lançado pela Agência Nacional de Águas (ANA), no final do ano passado. Esse assegura que seriam necessários R$  3,5 bilhões – a metade do custo da transposição – para realizar 530 obras e atender a 34 milhões de pessoas dos nove estados nordestinos e mais o norte de Minas Gerais, isso significa o abastecimento de 1356 sedes municipais.


 


 


Retrospectiva da primeira semana do acampamento


 


Dia 25/06


– Na madrugada entre os dias 25 e 26 inicia a ocupação da área de aproximação do canal norte do projeto de transposição por cerca de 1200 pessoas de Minas Gerais, Pernambuco, Sergipe, Alagoas, Bahia e Ceará.


Dia 26/07


– Aumenta para 1500 pessoas o número de manifestantes na área ocupada; são levantados barracos, organizadas equipes de trabalho e o processo de formação.


Dia 27/06


– Ministério da Integração Nacional divulga falsa informação sobre ter entrado com o pedido de reintegração de posse da área ocupada;


– Prefeito de Cabrobó instiga a população a reagir a ocupação;


Ato simbólico, no buraco construído pelo exército durante a visita do ministro da Integração, Geddel Vieira Lima, batizado como o “buraco de Geddel”. Índios dançam no local, é feito o enterro simbólico dos marcos de concreto do projeto de transposição e o plantio de mudas de árvores e cereais;


– Rômulo Macedo (do Ministério da Integração) tenta visitar e negociar com acampados, mas não é recebido;


28/06


– Acampamento recebe os bispos de Barra e de Juazeiro (BA), Dom Luiz Cappio e Dom José Geraldo. Juntos participam da celebração de início das atividades do dia;


– Advocacia Geral da União dá entrada no pedido de reintegração de posse da área;


– Trator contribui no mutirão de tapagem do “buraco do Geddel”;


– Ação no Ministério Público Federal pede atuação para garantir o direito dos indígenas. Documento pede agilidade na demarcação do território dos Truká, suspensão das obras da transposição e saída do exército.


Dia 29/06


– Juiz da 20ª Vara Federal concede liminar de reintegração;


– Nas imediações do acampamento aumenta a presença de policiais militares e de soldados do exército;


– Comandante de polícia faz sobrevôo no acampamento;


– Celebração comemorativa ao dia de São Pedro; construção coletiva de barracos e preparação da terra;


Dia 30/06


– Manifestação do povo indígena Truká pela passagem de dois anos do assassinato de dois índios;


– Festa dos índios no acampamento: Toré até a madrugada do dia seguinte;


– Retorno de caravanas para suas regiões: grupos que deram início à ocupação e montagem do acampamento, retornam e começam a mobilizar outros grupos;


– Aumenta apoio ao acampamento, presencialmente ou com auxílios para a infra-estrutura;


– Segue mutirão de construção de barracos, preparação da terra e tapagem do “buraco do Geddel”.


– Visita do bispo da diocese de Floresta (PE), Adriano.


Dia 01/07


– Revezamento de grupos; indígenas ficam em maior quantidade no acampamento;


– Cartas e outros documentos de apoio ao acampamento começam a ser divulgados.


Dia 02/07


– Reunião de urgência dos governadores de Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte em Recife: decisão de intensificar e lançar campanha pela transposição do rio São Francisco, a partir do dia 09;


– Trabalho coletivo de organização interna da infra-estrutura, formação política


– Inauguração da praça central do acampamento com apresentações de música, poesia e um jantar coletivo;


Dia 03/07


– Formação interna sobre o que é o projeto de transposição;


– Chegada de novas caravanas de Pernambuco e do Ceará.


 


Saiba mais:


 


São Francisco: Juiz emite reintegração de área ocupada e aumenta número de militares na área


 


São Francisco: Trabalhadores preparam terra para plantio em área ocupada de Cabrobó (PE)


 


Cerca de 1200 pessoas ocupam área onde o exército iniciou projeto de transposição


 

Fonte: acampamento
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