Mais um Hetá morre distante de sua terra
Tukanambá José Paraná, conhecido popularmente por Tuka, faleceu, nesta última segunda-feira, 11, aos 60 anos de idade, por insuficiência respiratória. Vítima de um Acidente Vascular Cerebral (AVC) e de uma forte pneumonia, após 18 dias de internação no hospital Evangélico de Curitiba, Tuka não resistiu e faleceu.
A historia de Tukanambá e do povo Héta (Xetá) é amplamente conhecida no estado paranaense. Contatados em meados do século passado, na região norte do estado, os Héta sofreram um dos maiores massacres já verificados contra populações indígenas no Brasil. A grande maioria dos Héta foi morta, em menos de uma década, devido à selvagem colonização do território em que viviam. Dos poucos sobreviventes do massacre – entre eles Tuka – a maioria eram crianças que foram literalmente arrancadas de seus pais e criadas por familiares dos fazendeiros que invadiram suas terras ou por funcionários do antigo Serviço de Proteção ao Índio (SPI).
Com a morte de Tuka, restam apenas seis sobreviventes conhecidos que, somados aos seus descendentes, perfazem cerca de noventa pessoas que compõe o povo Héta atualmente. Estas, no entanto, residem em centros urbanos e em terras dos povos Kaingang e Guarani localizadas em diversas regiões do Paraná. Neste contexto de dispersão, os sobreviventes são as pessoas com maior potencial aglutinador deste povo. A morte de Tuka representa pois, mais um duro golpe aos Héta.
Diante disso, aumenta ainda mais a necessidade e a urgência de se regularizar a terra tradicional do povo Héta. Há mais de uma década, Tuka, juntamente com Tikuein Mã, falecido no final de 2005, vinha liderando seu povo na luta pela reconquista de sua terra. Em função desta luta, a Fundação Nacional do Índio (Funai) já constituiu dois grupos de Trabalho (GT). O primeiro GT, criado em 1999, pesquisou sobre a viabilidade de reagrupamento dos Héta. O relatório produzido por este GT demonstra que os Héta desejam a reunificação enquanto povo e querem que isso ocorra em sua própria terra. Com base nisso, a Funai criou, em 2002, o GT para estudos de identificação e delimitação da terra tradicional deste povo. O relatório produzido por este GT foi concluído e entregue à Funai em Brasília em meados de 2006. Desde então, os Héta vêm reivindicando que a presidência da FUNAI dê seguimento ao procedimento, determinando a publicação do relatório nos Diários Oficiais da União e do Estado do Paraná.
Reunidos por ocasião do velório de Tukanambá, nesta terça-feira, 12, na Terra Indígena Mangueirinha, do povo Kaingang, os demais Héta presentes assumiram publicamente o compromisso de darem continuidade à luta de Tuka e Tikuein Mã. À luta pela reconquista de sua própria terra. Neste sentido, já agendaram um grande encontro do povo a ser realizado no próximo mês de outubro na cidade de Guarapuava.
Para o Conselho Indigenista Missionário, Regional Sul, não há motivo que justifique tamanha demora em dar seguimento ao procedimento administrativo que visa regularizar a terra tradicional do povo Héta. Pelo contrário, são muitos os elementos da conjuntura que apontam para a extrema urgência quanto ao andamento do referido procedimento. Neste sentido, o CIMI Sul soma-se ao pedido feito pelos Héta para que a presidência da Funai determine a publicação do relatório antropológico que identifica e delimita a sua terra tradicional.
Guarapuava, PR, 13 de junho de 2007
Marline Dassoler Buzatto, Pe. Diego J. Pelizzari e Cleber C. Buzatto
CIMI Sul – Equipe Paraná