Carta de Belém aos povos da Amazônia
Acampamento estadual da Via Campesina –
“CONTRA O IMPERIALISMO E PELA SOBERANIA POPULAR NA AMAZÔNIA”.
Carta de Belém aos povos da Amazônia1
Nós, povos tradicionais da Amazônia, Quilombolas, Indígenas (Arapium, Borari, Tupinambá, Munduruku, Tupayu, Arara Vermelho, Cara Preta, Jaraqui), Ribeirinhos, pescadores, Sem Terras, Pequenos Agricultores, Atingidos por Barragens, Povos urbanos, Camponeses e Camponesas, ligados à Via Campesina Pará, vindos de diversas regiões do Estado, estivemos reunidos entre os dias
Denunciar também a ação dos grileiros de terras, da monopolização da terra para plantio das culturas de eucalipto e soja, que são exportados e da ação violenta dos latifundiários sobre os povos Sem Terras e pequenos agricultores, principalmente das regiões sul, sudeste e nordeste do estado. Denunciar também a derrubada de matas nativas e o plantio da monocultura de eucalipto para produzir carvão vegetal utilizado pelas grandes empresas de Ferro Fusa da região sudeste do Estado. Também denunciar a ação indiscriminada dos madeireiros e dos grandes plantadores de soja na região do Baixo Amazonas, assim como da ação da empresa Cargill que vem afetando a vida de pescadores, ribeirinhos e indígenas. Denunciar também a ofensiva do governo, que continua implementando o modelo desenvolvimentista, baseado nos grandes projetos de infra-estruturas do PAC, e agora com a ofensiva pra a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, e da atuação da Companhia Vale do Rio Doce, que foi privatizada no governo FHC e que vem agindo de forma predatória e indiscriminada na região. Denunciar a privatização de terras e águas na ilha do Marajó, a pistolagem e a construção de cercas elétricas que privam o acesso comum do povo aos bens naturais deste território. Denunciar a realidade das famílias que vivem da pesca artesanal, e que sofrem os abusos das grandes empresas pesqueiras e da pirataria em rios e alto mar. Denunciar a falta de políticas públicas que contemplem o público do campo e também urbano. Por fim, denunciar os diversos trabalhadores e trabalhadoras ameaçados de morte em todos os locais onde os conflitos contra estes grandes projetos estão acontecendo.
Diante disso, nos reunimos para debater esses conflitos que se dão no campo, mas envolvem a sociedade e também exigir do governo ações concretas para romper com esta forma de dominação da nossa floresta e a expulsão dos povos de suas terras. Além disso, denunciar a impunidade diante do massacre do Eldorado de Carajás, dos mais de 500anos de extermínio do povo indígena, assim como do massacre e violência contra os negros. Neste sentido, queremos debater e continuar construindo um novo projeto de sociedade, baseado nos princípios que orientam o poder popular: na democracia participativa, no respeito ás culturas dos povos, na sustentabilidade social, ambiental, econômica, política e cultural, na soberania e na autonomia dos povos.
Para tanto, estamos num processo de construção da unidade em torno da Via Campesina, no sentido de criar um processo de resistência sobre as nossas terras, águas e florestas, envolvendo as diversas organizações que comungam desta mesma idéia e princípios, assim como, lutar para tomar de volta o que o grande capital nos tem tomado durante estes muitos anos. Estamos fortalecendo a nossa proposta de desenvolvimento com o princípio do respeito à vida, dos bens essenciais para a vida, e para construção da soberania popular, contra o imperialismo.
Acreditamos que somente conseguiremos vencer esta nossa luta contra este grande capital, se tivermos um povo organizado e fazendo lutas. Para isso, precisamos formar pessoas que de fato tenham compromisso com a causa socialista, de pessoas que tenham sensibilidade e da indignação diante das injustiças cometidas, ]assim como, pessoas que cultivam a prática e valores militantes.
“Nossas terras, nossos rios não se vendem: nossas terras, nossos rios se defendem”.
1 Estiveram presentes mais de 1000 camponeses e camponeses das seguintes organizações: (MAB, MST, CPT, CPP, PJR,CIMI,MSTU,GCI,FDA,STR de Prainha, Colônia Z20 e Z31, Associação de pescadores de Salva Terra, CITA, Conselho Popular de Prainha).