17/04/2007

Surgiu aldeia na esplanada

Acampamento Terra Livre


O avanço da  união e luta dos Povos Indígenas


 


Surgiu aldeia na esplanada


Antes que o galo cantasse pela primeira vez, os ônibus já roncavam. Sonolentos e animados, foram chegando os povos diversos, em seu deslocamento até a


Esplanada dos Ministérios, centro nervoso do poder. Não demorou uma hora e a nova aldeia começou a surgir. Esse ano, o acampamento divide o espaço com os ferros e estruturas em implantação pelo governo do Distrito Federal, para a comemoração dos 47 anos de Brasília, no dia 21 deste mês.


 


Sem atropelos ou surpresas. A chegada foi tranqüila, sob o céu limpo, povoado de estrelas. Ao começarem a cavar os buracos para a engenharia dos bambus a sustentarem as lonas, viram que o chão estava muito duro. A seca está chegando na região. Mas nada tirou a animação com que foram sendo erguidos as dezenas de barracos, das mais variadas formas.


 


Antes que o galo cantasse pela terceira vez, a maioria das pessoas já estava dormindo em seus barracos. Não foi fácil madrugar. Foram surpreendidos pela visita do sol. Mas aos poucos começou a movimentação na Aldeia Terra Livre. Os nobres acampados estavam recheados de disposição para mais esse momento de luta.  A manhã foi para enturmar, conhecer os demais parentes, trocar idéias, contar causos, e ver os últimos detalhes de toda a organização e programação.





 


PAC  e Funai na roda 


Tarde quente. Apesar de ainda algumas delegações estarem chegando e a estrutura ainda não estar totalmente concluída, havia dois temas para o debate – o Programa de Aceleramento do Crescimento, e a “nova Funai”, ou melhor, novo presidente, cheio de sorrisos, amabilidades e disposição de ouvir, dialogar e mudar. Disse ter sido nomeado pelo presidente Lula e pelo Ministro da Justiça, Tarso Genro, para mudar a atuação do governo com relação aos povos indígenas. Elencou as quatro prioridades – instalação da Comissão de Política Indigenista, fazer avançar a questão dos direitos territoriais, programas de desenvolvimento alternativo nas terras indígenas, com vigilância e controle sobre os territórios, valorizar o patrimônio cultural dos povos indígenas. Afirmou ainda que pretende não ficar o tempo todo em Brasília, mas visitar as aldeias e fazer encontros regionais, para ouvir mais do que falar, e planejar com os povos as ações conforme cada realidade. Esses pontos certamente foram para se contrapor à desastrosa atuação do anterior presidente do órgão, que além de dizer que os índios tinham terra demais, que muitos não eram índios, ainda passou grande parte de seu tempo procurando índios na Europa e Rio de Janeiro.


 


Com relação ao PAC, foi feita a exposição por Roberto Esmeraldi, alertando para os principais riscos de impacto desses “canteiros de obras” dos grandes projetos – hidrelétricas, hidrovias, asfaltamento das grandes rodovias – sobre inúmeras terras indígenas, particularmente na Amazônia. Alertou que mais perigosos do que o próprio projeto serão certamente os processos de ocupação e destruição ambiental e social que eles irão desencadear.


As lideranças indígenas deram vários depoimentos sobre o seu sofrimento em decorrência dessas políticas e a desassistência que estão sofrendo em suas aldeias, ficando nas mãos desses interesses inescrupulosos e bárbaros.


 


Velhos guerreiros em novos tempos


Já fazia muito tempo que não se via o encontro  dos lutadores de décadas passadas e os líderes do movimento indígena atual. Aniceto Xavante, Raoni Txukaramãe, Davi Yanomami no meio de centenas de novas lideranças das mesmas lutas de ontem e hoje, especialmente pela terra e garantia dos direitos.


 


Ficou claro que o movimento teve avanços, mas os vícios, entraves e desafios principais continuam: não demarcação e garantia das terras, criminalização das lideranças e do movimento, assassinato dos lutadores, violências, política indigenista marcada pelo colonialismo, dentre outros.


 


Porém o movimento indígena busca construir sua autonomia, dar visibilidade às suas lutas, exigir o respeito aos direitos conquistados. O Acampamento Terra Livre é um importante espaço nessa luta. Pela quarta vez consecutiva os povos indígenas do Brasil constroem sua aldeia plural, no Planalto Central.


 


Hoje, neste segundo dia, serão debatidos os principais temas colocados hoje na pauta desses povos. À tarde será o momento de homenagem e celebração da memória dos que tombaram na luta, lembrando os dez anos do assassinato de Galdino Pataxó-Hã-Hã-Hãe aqui em Brasília.


 


Egon Heck

Cimi MS

Fonte: Egon Heck/ Cimi MS
Share this: