16/04/2007

Mais de mil indígenas fazem ato pelas ruas de Porto Alegre

Mais de mil indígenas Guarani, trabalhadores desempregados e integrantes do Levante da Juventude protestaram, nessa sexta-feira (14), pela demarcação das terras indígenas e por melhorias nas áreas de saúde e educação. Os manifestantes marcharam pelas principais ruas do centro de Porto Alegre, plantaram árvores nativas e encerraram seus protestos no Palácio Piratini, onde entregaram a carta de reivindicações à governadora Yeda Crusius.

O líder Guarani Maurício Gonçalves, da reserva indígena do Cantagalo, na Capital gaúcha, relata que no documento os Guarani reivindicaram à governadora, colaboração ao governo federal na demarcação de terras indígenas, escolas que ensinem a língua Guarani e mais recursos para a saúde e a educação nas reservas do Estado.

“Aqui no Estado, a principal luta do povo guarani é a terra. Enquanto não se demarca a terra, os Guarani estão na beira da estrada, correndo risco de vida, passando dificuldade, sem um lugar para plantar e sobreviver”.

De acordo com dados da Fundação Nacional do Índio (Funai), das 27 áreas indígenas Guarani e Kaingang gaúchas, 63% estão demarcadas e 11% em processo de demarcação. Os dados mostram porque a principal reivindicação indígena é a demarcação das terras, que em todo o Brasil  tem como empecilhos a especulação imobiliária, o avanço dos latifúndios e a própria lentidão dos governos em organizar as áreas indígenas.

Anastácio Peralta, liderança Guarani Kaiowá, do Mato Grosso do Sul,  explica que a relação do povo indígena com a terra não se baseia somente na sobrevivência física, mas também cultural. “O Brasil precisa ter uma nova mentalidade de que nós [indígenas] fazemos parte do país, desse planeta Terra, da América Latina. E a própria educação não conseguiu mostrar isso ainda. Então terra é pra quem tem dinheiro, tem boi, soja e eucalipto. Pra fazendeiro. Precisamos mudar essa mentalidade, porque todos têm direito à terra”, afirma.

Como as demais organizações sociais do campo, os indígenas também sofrem muita repressão dos latifundiários e das forças policiais. O estado do Mato Grosso do Sul e a região Norte do país concentram o maior número de conflitos e assassinatos de lideranças indígenas. De acordo com dados do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), entre os anos de 2003 e 2005 foram homologadas, em média, seis terras indígenas por ano. No mesmo período, a média de assassinatos chegou a 40.

Além da terra, os Guarani também reivindicam políticas públicas específicas de saúde e educação aos povos indígenas. Adolfo, presidente do Conselho Estadual dos Povos Indígenas de São Paulo, afirma que as escolas indígenas não devem estar voltadas somente ao ensino da língua portuguesa.”Hoje nós não temos assistência de saúde adequada, educação diferenciada. Nós queremos escolas que ensinem as tradições indígenas”, diz.

A mobilização integra as atividades do 2º Encontro Internacional Sepé Tiaraju e o Povo Guarani, que encerra neste sábado, na capital gaúcha. 

Fonte: Raquel Casiraghi – Agencia Chasque
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