Mato Grosso do Sul: Índios querem justiça e não esmola
O mês de abril é dedicado, de modo especial, aos povos indígenas em todo o Brasil e Continente Americano – Abya Yala, como é reconhecido por esses povos.
No Mato Grosso do Sul, que tem uma das maiores populações indígenas do país e em piores situações de vida – terra, alimentos, violência, discriminação, prisões, os Kaiowá Guarani, Terena, Kadiwéu, Guató, Ofaié, Kinikinawa, Atikum e Kamba não poderiam deixar de lutar pelos seus direitos. E isso estará acontecendo nos próximos dias.
Mobilização Indígena e Movimentos Sociais em Campo Grande
O dia 13 de abril foi escolhido pelos povos indígenas e coordenação dos movimentos sociais, como o dia de mobilização em Campo Grande. É neste dia que quase uma centena de representantes indígenas desse estado estarão iniciando sua viagem até Brasília, para participar do Acampamento Terra Livre, reunirá quase mil indígenas de todo o país. Mais uma vez os índios estarão se acampando na esplanada dos Ministérios para dizer aos governantes, aos representantes dos três poderes que estão cansados de serem tratados como questão secundária, de não terem suas terras demarcadas e respeitadas, de suas lutas serem criminalizadas, de seus direitos constitucionais não serem respeitados. Vão exigir o fim da relação colonialista de paternalismo e assistencialismo.
Além dos indígenas que irão viajar para Brasília, das outras regiões do Estado estão vindo centenas de indígenas para Campo Grande, para uma grande mobilização em que estarão não só falando da dura realidade que enfrentam nas aldeias e nas cidades, mas principalmente exigindo a demarcação de suas terras, apoio para que voltem a recuperar e produzir alimentos em suas terras, ter uma assistência à saúde e escola diferenciadas e de qualidade e que sejam efetivamente respeitados como povos e culturas conforme garante a Constituição. Portanto não estarão vindo pedir escolas mas lutar pelos seus direitos e exigir justiça.
Fetems – lutando pelos direitos indígenas e pelo direito à diversidade
Uma iniciativa muito louvável é da Federação dos Trabalhadores em Educação no Mato Grosso do Sul, que estão promovendo atividades sobre os povos indígenas, em todas as escolas públicas do Estado. Para tanto foi elaborado um material especial, nas aulas de Cidadania, que estará chegando a todos os professores e alunos destas escolas. Esse e outros materiais também estarão sendo disponibilizados no site da entidade.
Abril Indígena – Povos Indígenas se mobilizam. Só desta forma, através de uma informação e reflexão mais séria e aprofundada sobre a realidade, os direitos e lutas dos povos indígenas hoje é que se estará começando a construir esse país plural, com tantos povos e culturas.
Dívidas histórias e compromisso ético
A questão indígena é uma realidade relevante que exige de todos nós uma avaliação séria e um compromisso ético com essa luta. A União e os Estados tem uma enorme dívida com esses povos pois tiraram suas terras, roubaram os recursos naturais, degradaram o meio ambiente, impuseram valores e cultura estranha, destruíram as bases da economia de reciprocidade, desencadearam um extermínio e violência sem precedentes, confinaram em pequenos espaços, tiraram sua liberdade e autonomia. Essa dívida só pode ser paga devolvendo as terras necessárias para reconstituírem suas vidas enquanto comunidades e povos. Tanto o governo federal, como os governos estaduais titularam a particulares a maioria das terras indígenas. Por isso ambos tem o compromisso de se empenhar na reversão desse quadro.
E toda a sociedade tem sul matogrossense tem uma grande dívida histórica com os povos indígenas, pois de uma forma ou de outra participamos e justificamos a dominação, o roubo das terras e recursos naturais, a desestruturação social e econômica, a imposição de religiões e culturas, a violência e a fome que atinge grande parte das comunidades indígenas hoje.
Portanto todos temos nossa parcela de responsabilidade em mudar essa situação. Vamos participar junto com os povos indígenas das mobilizações no dia 13 em Campo Grande e apoiar a luta desses povos por seus direitos. Isso implica em que participemos da construção de um novo projeto de sociedade baseada na pluralidade e na justiça.