Sobre a Terra Marãiwatsédé
Sobre a Terra Marãiwatsédé
Marãiwatsédé ainda hoje é terá nossa do povo xavante desde que fomos tirados da sede antiga fazenda Saiuá-Missú e fomos encaminhados a ir longe, mais ou menos umas duas léguas, onde não tinha água suficiente no tempo da seca e no tempo da chuva era só lama. O primeiro invasor, Ariosto da Riva, chegou no ano de 1960. Agora, naquele tempo não se sabe como ele chegou para invadir e abrir terra que já era ocupada pelos Xavante. Será que o governo do estado naquele ano 60 não pensou nos índios morando naquela região? Os dois estados de Mato Grosso eram unidos, eram um só. Nós fomos coitados pensando hoje assim. Porque Ariosto da Riva, mesmo com presença de Xavante era dono da terra com 800.000 (oitocentos mil) hectares. Imagina, quem é que deu tanta terra assim? E índios que moravam naquela terra foram jogados onde? Fazer assim com pessoa digna é uma loucura. Depois chegaram outros como o Sr. Orlando Ometto, Dr. Hermínio Ometto. Então vieram diversos tipos de doenças, que os Xavante não conheciam. E morreram muitos. Então isso era que uma grande desculpa e golpes de manobra pelos invasores para que os Xavante fossem tirados para a Missão de São Marcos no ano 1966. A denominação da fazenda Suiá-Missú foi dada erradamente pelos invasores daquela terra fazenda. Aquela terra sempre era ocupada pelos Xavante A’uwé upitab, que quer dizer “povo autêntico” desde 1900 (Mil e novecentos) que os primeiros invasores nem conheciam a denominação da gente.
Então em 15 de agosto de 1966 fomos transportados da Força Aérea Brasileira (FAB) para Missão de São Marcos. A terra não está ainda totalmente liberada pelos posseiros. A demarcação não envolveu totalmente os lugares históricos dos Xavante, grande parte da terra que os Xavante conheciam muito bem ficou de fora onde os nossos antepassados foram enterrados. O que fazer para conseguirmos aquela terra ocupada registrada homologada, que é ainda ocupada pelos posseiros? Isso é uma pergunta que me faço. O posto da Mata é a antiga fazenda Suiá-Missú, que ainda os posseiros ocupam. Queremos nossa liberdade para nos movimentar, caçar, pescar, catar frutas do mato e outras abundâncias que a mata nos oferece.
Quando deixamos Marãiwatsédé em 1966 ainda tinha muita mata e quando voltamos a Marãiwatsédé não achamos quase nada, só vimos destruição, desmatamento brutal. Hoje, o município do nosso Marãiwatsédé é Alto da Boa Vista, criado para dizer que por lá nunca moraram os Xavante. Seria melhor posseiros responsáveis da destruição tomarem providências para recuperar aquela mata. Gostaria muito de compartilhar, contribuir com esclarecimentos sobre a nossa saída de Marãiwatsédé no ano 1966. Alguns dizem que foram os padres salesianos que nos tiraram da nossa aldeia São Marcos, isso é uma fala jogada sem fundamento. Foram os primeiros invasores que nos tiraram da nossa terra de origem. Os invasores pressionaram o diretor da Missão São Marcos, o Sr. Pe. Mário Otorino Panziera. Então por pressão recebida por parte dos invasores o diretor da Missão nos escolheu para morarmos com outros Xavante que já moravam lá. Não temos ódio contra quem nos fez mal é melhor que paguem e reconheçam o que fizeram com a gente. Cito mais uma vez os primeiros invasores.
Padre Aquilino T. Tsi´rui´a
Fevereiro de 2007