Informe n° 758: Jovem Bororo é morto na terra Jarudóri, no Mato Grosso
– Jovem Bororo é morto na terra Jarudóri, no Mato Grosso
– Povo Potiguara retoma terras invadidas por usineiros, na Paraíba
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JOVEM BORORO É MORTO NA TERRA JARUDÓRI, NO MATO GROSSO
Às dez horas da noite do último sábado, 17 de março, Helenildo Bataru Egiri, índio Bororo de 20 anos, atendeu alguns homens desconhecidos que bateram em sua porta, pedindo água. Ao entregar a água, foi morto com três tiros à queima-roupa pelos homens, que estavam num táxi.
Sua família nunca saiu da terra indígena Jarudóri, do povo Bororo, de 4.706 hectares, invadida desde os anos 1950 e sobre a qual incide uma ação civil pública desde julho de 2006. Um grupo Bororo abriu uma nova aldeia na área em junho de 2006, e desde então ameaças e tentativas de homicídio vêm acontecendo.
Histórico
A terra Jarudóri, no município de Poxoréu, MT, é registrada há mais de 50 anos, mas continua invadida por não índios. Os missionários salesianos que atuam na região vêm sofrendo pressão e ameaças, sobretudo em relação à sua atuação junto ao povo Bororo na terra Jarudóri.
Em 5 de dezembro de 2006, foi feita uma denúncia à procuradoria da República de Cuiabá, relatando as várias ameaças de morte feitas por posseiros contra o grupo da cacique Bororo Maria Aparecida Toro Ekureudo. Na madrugada de 26 de dezembro, o genro dela, João Osmar (“Gaúcho”), sofreu tentativa de homicídio e teve seu caminhão incendiado, ao sair da terra indígena. Traumatizado, foi atendido no pronto-socorro de Primavera do Leste e na Casa de Saúde do Índio de Cuiabá, antes de ser transferido para um local mais seguro.
O Ministério Público Federal requereu insistentemente abertura de inquérito, instaurado finalmente em 9 de janeiro de 2007 (n° 3-004/2007). A orientação da Funai local ao delegado da Polícia Federal foi de que tal inquérito não seria da competência da PF, pois não se tratava de vítima indígena.
Povo Potiguara retoma terras invadidas por usineiros, na Paraíba
Cansados de esperar pela demarcação de suas terras, os Potiguara, no município de Rio Tinto, Paraíba, retomaram parte de sua terra, que estava invadida por uma usina canavieira. A área era ocupada pela Fazenda Rafaela.
Cerca de 50 famílias – 150 pessoas – estão acampadas desde o dia 19 de março e trabalham na construção de casas e a abertura de roças. A retomada foi iniciada no inicio de fevereiro, sem a ocupação humana. Os indígenas arrancaram a cana-de-açúcar e plantaram alimentos como feijão, macaxeira, inhame, milho e verduras. Na manhã desta terça-feira, 20 de março, a primeira casa foi concluída.
Já existe um pedido de reintegração de posse, mas a situação na retomada está tranqüila.
Em agosto de 2003, os Potiguara retomaram a terra da então usina Japungu, após os usineiros terem tentado passando um trator por cima de roças deste povo para aumentar sua área de plantação de cana. Desde a retomada, os Potiguara usam a área para moradia e produção de alimentos.
A partir da década de 1970, as terras Potiguara foram invadidas por plantações de cana de açúcar, usada para a produção de álcool e açúcar nas usinas que se instalaram na região, incentivadas pelo programa Próalcool. Naquela época, junto com as promessas de emprego as usinas trouxeram desmatamento, diminuição das áreas de roça, degradação do solo, envenenamento dos manguezais onde a comunidade coletava mariscos e caranguejos para se alimentar e vender.
A terra Potiguara fica nos municípios de Rio Tinto, Marcação e Baia da Traição. Parte do território deste povo (as terras Jacaré de São Domingos e Potiguara) teve sua demarcação concluída. A terra Poriguara de Monte Mor, de 7.487 hectares, está identificada, mas ainda é objeto de disputas judiciais.
A retomada se consolida na mesma semana em que o presidente Lula – que tem apresentado o biodiesel como o novo grande produto do país para exportação – chamou produtores de cana de “heróis”. “Os usineiros de cana, que há dez anos eram tidos como bandidos do agronegócio neste país, estão virando heróis mundiais e nacionais porque o mundo está de olho no álcool”, afirmou o presidente durante inauguração de indústria em Goiás.
Brasília, 22 de março de 2007