08/01/2007

Terra, Vida e Luta Guarani

O boi pasta gordo e faceiro do outro lado da cerca.


À beira da estrada, os acampados penam o início de mais um ano.


A soja viceja o verde escuro a perder de vista.


Confinados, os Kaiowá Guarani voltam, em sonho ou no chão, para seus tekoha.


A cana acena ao sopro do vento sua expansão anunciada.


Os trabalhadores semi-escravos amargam a espera de novas jornadas.


O eucalipto ereto anuncia sua vez nos planos do grande capital.


A natureza agonizante com seu grito surdo não consegue comover seus algozes.


Os sem terra acampam sua esperança na decepção de mais quatro anos.


 


É tempo de recomeçar,


Tempo de reinventar a luta,


Tempo de insurgir a paciência,


De ressurgir a utopia,


De amanhecer da longa noite


De alongar o presente ao futuro!


 


No Mato Grosso do Sul,


O sol surge interrogante,


No anúncio prepotente


E arrogante,


De novos tempos de progresso,


Como se a gente


Não tivesse memória,


E a história fosse propriedade


Privada de um punhado


De agraciados pelo capital.


 


Malditas cercas impunes


Do latifúndio impostor,


Do agronegócio invasor


Que a todo custo continua a impor


A verdade da mentira


De ser o grande salvador,


De um estado de bem estar,


Onde a maioria vegeta


Entre a cerca e o asfalto,


Entre a miséria e a desesperança!


 


Terra, Vida e Luta Guarani,


Sepé revolto nas cochilhas,


Aqui começa e continua


Um novo tempo,


De volta


À terra da esperança,


Mesmo que o dia seja


Ainda criança,


E a noite um longo caminhar!


 


Egon Heck

Cimi MS – Dourados 7 de janeiro de 2007

Fonte: Cimi MS
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