Terra, Vida e Luta Guarani
O boi pasta gordo e faceiro do outro lado da cerca.
À beira da estrada, os acampados penam o início de mais um ano.
A soja viceja o verde escuro a perder de vista.
Confinados, os Kaiowá Guarani voltam, em sonho ou no chão, para seus tekoha.
A cana acena ao sopro do vento sua expansão anunciada.
Os trabalhadores semi-escravos amargam a espera de novas jornadas.
O eucalipto ereto anuncia sua vez nos planos do grande capital.
A natureza agonizante com seu grito surdo não consegue comover seus algozes.
Os sem terra acampam sua esperança na decepção de mais quatro anos.
É tempo de recomeçar,
Tempo de reinventar a luta,
Tempo de insurgir a paciência,
De ressurgir a utopia,
De amanhecer da longa noite
De alongar o presente ao futuro!
No Mato Grosso do Sul,
O sol surge interrogante,
No anúncio prepotente
E arrogante,
De novos tempos de progresso,
Como se a gente
Não tivesse memória,
E a história fosse propriedade
Privada de um punhado
De agraciados pelo capital.
Malditas cercas impunes
Do latifúndio impostor,
Do agronegócio invasor
Que a todo custo continua a impor
A verdade da mentira
De ser o grande salvador,
De um estado de bem estar,
Onde a maioria vegeta
Entre a cerca e o asfalto,
Entre a miséria e a desesperança!
Terra, Vida e Luta Guarani,
Sepé revolto nas cochilhas,
Aqui começa e continua
Um novo tempo,
De volta
À terra da esperança,
Mesmo que o dia seja
Ainda criança,
E a noite um longo caminhar!
Egon Heck