Ética, sustentabilidade, espiritualidade e desafios são temas do primeiro dia do Seminário da 4a. Semana
Começou no ontem, 17, o Seminário de encerramento da 4a. Semana Social Brasileira. O evento foi iniciado com um belo momento de celebração às margens do Lago Sul de Brasília, onde se localiza o Centro de Convenções Israel Pinheiro, local em que se realiza o seminário.
Na abertura, Dom João Braz de Avis, arcebispo de Brasília, enfatizou que queremos um Brasil novo, que isso requer mudanças por vezes difíceis, pois elas requerem que se componha diversidades.
A seguir, saudaram os participantes o presidente da CNBB, Dom Geraldo Majella Agnelo, o Pastor Renato Kühne, da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB), representando o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), Bernadete Aparecida Ferreira, representando os movimentos sociais e de Dom Aldo Pagotto, presidente da Comissão Episcopal Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz. Este ressaltou a importância desta 4a. Semana Social pelos eixos temáticos que são discutidos e pelas diferentes forças vivas que acolhe, empenhadas nas mudanças necessárias.
Dom Demétrio Valentini, coordenador da 4a. Semana, fez um resgate histórico do processo das quatro semanas sociais que se realizaram. Mostrou o contexto em que cada uma aconteceu, e ressaltou as afirmações básicas, as bandeiras levantadas e as perspectivas que abriram.
A Ética da Vida
Num segundo momento do dia, o sócioeducador Marcos Arruda fez uma palestra com o tema: A Ética da Vida, a Espiritualidade do Coração e a Sustentabilidade.
Enfatizou que a ética é o conjunto de valores que orienta o comportamento humano e que diz o que é bom e o que é mau. Afirmou que há diferentes éticas. A ética do capital, por exemplo, define que é bom e justo o que dá lucro e que o Estado deve estar a serviço deste princípio. Já a ética da vida entende como bom e justo tudo o que ajuda a vida a se manter e evoluir, não só a vida humana, mas a vida de todos os seres vivos em sua relação com o universo. A ética da vida e a ética do amor se fundem. O Estado, por sua vez, tem como missão assegurar a vida a todos em condições que permitam o desenvolvimento de todas as potencialidades de cada um.
Asseverou ainda que o Estado hoje tem uma ética contrária à vida porque privilegia a propriedade e a posse e se põe a serviço do capital. Analisou a vitória de Lula nestas eleições dizendo ser uma vitória cheia de contradições, pois a macroeconomia e o modelo de desenvolvimento obedecem à lógica do crescimento econômico e não de preservação e promoção da vida; as políticas sociais não promovem mudanças profundas e, por serem assistencialistas, se forem suprimidas, farão os beneficiários voltar à miséria e à fome. Outra contradição é a de querer agradar a todas as classes, abandonando a realidade da luta de classes que está presente no dia-a-dia.
Espiritualidade do coração
Marcos Arruda aprofundou ainda o tema da espiritualidade do coração. Afirmou que a espiritualidade abrange a totalidade do ser humano. Espiritualidade é viver a interioridade e se realiza em tudo o que fazemos e somos. Ser espiritual é ser inteiro em tudo o que fazemos, sempre em sintonia com o Universo. A espiritualidade se manifesta exterior e interiormente. A união da interioridade e da exterioridade provoca a auto-transformação e a transformação do meio no qual vivemos. Tem uma dimensão histórica, ligada a quem nos precedeu, mas se expressa no cotidiano, nas pequenas ações de cada dia.
Sustentabilidade
No terceiro ponto de sua fala, Marcos apresentou um quadro da crise profunda em que vivemos. Uma crise da civilização alicerçada no lucro e na idéia de que o crescimento não tem limites. Esta crise se manifesta em quatro grandes campos: na desigualdade social gritante; na militarização que consome os recursos que poderiam resolver problemas fundamentais da vida da população mundial; na financeirização que privilegia a especulação em detrimento da produção e na questão ambiental. Os recursos naturais são limitados e estão sendo destruídos em ritmo veloz.
Desafios e perspectivas
Na parte da tarde, os participantes começaram a se debruçar sobre os desafios e as perspectivas que são colocados à sociedade brasileira e que foram trabalhados durante todo o processo da 4a Semana. Estes desafios e perspectivas se centraram em cinco eixos: o Estado, a soberania nacional, a crise civilizatória e de sustentabilidade, as forças sociais e a precarização do trabalho.
Em torno a cada um destes eixos houve a fala de um assessor, seguidas de debate. No dia de hoje, 18, estes temas serão aprofundados em grupos de trabalho que depois serão socializados em plenárias. As conclusões do seminário serão incorporadas à Carta da 4a Semana Social Brasileira que vai ser divulgada ao final do seminário.
(Antônio Canuto – CPT)