Caso Cañas: Ex-delegado acusado pelo assassinato foi interrogado na noite de ontem
O julgamento dos acusados pelo assassinato do padre Vicente Cañas Costa prossegue a partir das 9 horas da manhã desta quarta-feira, 25 de abril. A sessão será iniciada com a leitura de trechos do processo escolhidos pelos advogados de defesa e acusação, atividade que deve levar algumas horas. Depois, serão ouvidas quatro testemunhas da defesa e cinco da acusação. Por fim, haverá debates que, entre postulações e respostas dos advogados, podem durar até cinco horas.
O julgamento começou de fato na tarde de ontem (24). Através de recurso previsto na legislação processual, a defesa fez com que se desmembrasse o julgamento dos dois acusados pelo assassinato que vão a júri popular. Assim, está sendo julgado Ronaldo Antônio Osmar, ex-delegado de polícia de Juína, município do crime, pela acusação de homicídio duplamente qualificado, mediante pagamento e em emboscada.
O interrogatório de Ronaldo Antônio Osmar foi realizado no início da noite. Acusado de ser um dos autores intelectuais do assassinato e de ter coordenado a operação, o réu negou ter qualquer envolvimento com o assassinato de Cañas. Respondeu a grande parte das perguntas dizendo que não se lembrava dos fatos. Disse que conhecia Vicente Cañas apenas pelas histórias que ouvia sobre o “missionário barbudo, de cabelos compridos e que usava colares como os índios”.
Segundo o ex-delegado, Cañas era conhecido na região como sendo “chefe” dos indígenas e seria responsabilizado por ser idealizador de assassinatos atribuídos aos indígenas que ocorreram antes de sua morte, já no contexto de tensão entre os Enawene Nawe e não-indios. O réu também negou conhecer qualquer tensão entre indígenas e posseiros ou proprietários de terras. No entanto, como delegado de polícia, ele confirmou ter feito a ocorrência de um dos casos de assassinatos.
O réu negou também que tenha tido qualquer atitude para retardar as investigações, apesar dos questionamentos feitos pelo advogado de acusação, Mario Lucio Avelar, e pela assistência dele, através da Dra. Michael Nolan, que citaram textualmente reclamações do delegado que coordenava as investigações, de Cuiabá.
“Já era conhecida esta linha da defesa, de negar qualquer envolvimento com o caso. Mas esta atitude tem ônus também, porque amanhã (hoje) começa a fase de apresentação de provas. Acredito que a partir deste momento a estratégia da defesa vai se revelar fragilizada e os jurados terão elementos que lhes permitam avaliar sobre a condenação”, avaliou Paulo Machado Guimarães, assessor jurídico do Cimi que também atua na assistência de acusação.
Outro julgamento marcado
O outro réu, José Vicente da Silva, será julgado a partir da próxima terça-feira, 31 de outubro. O advogado de José Vicente retirou-se do júri para garantir o adiamento, já que a acusação, que poderia definir a ordem do julgamento dos réus, queria que José Vicente fosse a julgamento primeiro.
Seus advogados de defesa comprometeram-se a garantir a presença das quatro testemunhas que arrolaram para o caso e que não estavam presentes no tribunal ontem.
O terceiro acusado que iria a julgamento, Martinez Abadio, da Silva, teve o processo prescrito por ter mais que 70 anos.
Novo ato na Justiça Federal
Às 9h00 da manhã em Cuiabá (10h00 em Brasília), está marcada uma nova mobilização no saguão da Justiça Federal. Pessoas que conviveram com Vicente Cañas contarão fatos sobre a vida do missionário e darão depoimentos sobre sua maneira de conviver com o povo Enawene Nawe.