20/10/2006

Vicente que vi e Visita Derradeira



Vicente, Kiwi


Tua morte não foi em vão


Tua memória nos acompanha,


Na vida dos Enawenê-Nawê,


No Centro de formação


E luta do Cimi,


Na mobilização dos povos,


Na construção


De um mundo mais justo!


 


Chega de impunidade,


Basta de duas medidas,


Depois de 19 anos,


É chegada a hora


Da justiça e punição


Pela barbárie cometida,


Tiraram tua vida,


Tentando calar tua voz,


Teus sonhos e utopia,


De ver clarear novo dia


Solidário e plural,


Onde todos possam viver


Na igualdade e dignidade!


 


O Vicente que vi,


Estirado ao lado do seu barraco,


Com belo colar Enawenê


No pescoço


E um buraco no peito,


Preservado pela natureza,


Depois do brutal assassinato,


Há mais de 40 dias,


Foi uma imagem chocante,


Que levou Tomás ao pranto,


E uma revolta incontida,


Convertido em luta por justiça!


 


Por tantos anos


Os assassinos e os mandantes


Apostaram na impunidade,


Tua cabeça rolou por esse país,


Nas mãos de estranhos e peritos


Sem conseguir sensibilizar


Os responsáveis pela justiça!


 


Enquanto isso, em Dourados,


Nove Kaiowá Guarani,


Presos há mais de meio ano,


Acusados da morte


De dois policiais,


Vêem o processo acusatório


Correndo com tanta presteza


Que já se começa prever


Julgamento ainda esse ano!


 


Os assassinos de Marçal


Continuam impunes,


Depois de depois de 28 anos.


Igualmente os matadores


De Dorival e Dorvalino,


Contam a seu favor,


A lentidão da justiça,


Enquanto gozam de liberdade!


 


Kiwi, nos acompanhe


Na luta de cada dia,


Enquanto atentos acompanhamos,


O julgamento dos teus assassinos,


Clamando por justiça,


Que embora tardia,


Será muito importante,


No combate à impunidade!


 


Campo Grande (MS), 19 de outubro de 2006.



 


Visita Derradeira


(escrito em junho de 1987, um mês após o assassinato de Vicente Canãs)


 


Sol nascente,


Cortando as águas do rio Papagaio.


Manhã de ansiedade.


Ao encontro do companheiro Vicente,


íamos seus amigos.


Jarika, o novo, kiwuxi, Myky,


Tião e Egon, do Cimi regional e nacional.


Vencendo as águas contrárias


do Yuruena,


pensamento e esperança


já indo além.


Finalmente,


a chegada ao porto.


A estranheza.


A grito.


Respondido pelo silêncio!


O encontro,


a estupefação.


o pranto,


ante o cadáver mumificado ao lado do barraco.


Era dia 16 de maio.


A vida matada do companheiro


calou fundo.


Ganhou as matas,


os rios, as estradas,


O mundo.


Semente!


 


 


 

Fonte: Cimi - Regional Mato Grosso do Sul
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