18/10/2006

Encontro em Minas discute a importância da participação da juventude na luta indígena


A Fazenda Guarani, lar do Povo Pataxó, recebeu entre dias 12 a 15 de outubro cerca de 400 participantes para o “1º Encontro de Jovens Indígenas da região Leste (MG, ES, e Sul da Bahia) e de Jovens solidários com a causa indígena”.


 


Estavam presentes representantes dos Povos de Minas (Krenak, Pataxó, Xucuru-Kariri, Maxacali, Aranã, Xacriabá, Mucuriñ, Caxixó e Pankararu), do Espírito Santo (Tupinambá e Guarani) e Sul da Bahia (Pataxó Hã-hã-hãe); estudantes secundaristas e universitários, entidades, movimentos e interessados pela causa indígena.


 


Marcado pela troca de saberes, interlocução de culturas e muita animação, o encontro contou com dois dias de atividades intensas.  A sexta-feira (13) foi recheada por oração, caminhada, painéis e grupos temáticos. O sábado (14), pela socialização do que foi discutido nesses grupos, construção do “painel dos sonhos”, celebração, pelo batizado indígena na aldeia Imbiruçu (do povo Pataxó) e terminou com uma noite cultural.


 


Na sexta pela manhã, antes de iniciar os trabalhos, um pedido foi feito a “Vó Cabocla”: Proteger e abençoar os participantes – assim pediram em rito o Povo Xacriabá. Naquela mesma palhoça celebramos a vida, o ar, terra, água e povos.


 


A caminhada reflexiva até a quadra (local onde as discussões aconteceram), simbolizou a penitência, o pedido de perdão pelas tantas vezes que discriminamos, somos indiferentes, não respeitamos culturas diferenciadas, mas também foi momento de refletir nossa relação, nosso comportamento com todos os tipos de vidas.


 


Durante o trajeto três paradas aconteceram, nelas os Guarani, os Tupinambá, os Pataxó e todos os povos presentes dançaram e fizeram rituais.


 


No painel “As diferenças fazem diferença”, cinco jovens (Letícia Aleixo, Leonardo – dos grupos de apoio Erehé e Toré; Isac – Cacique Pataxó e Douglas Krenak – Conselho dos Povos Indígenas) discutiram o protagonismo juvenil dos índios e não-índios. Colocaram a importância das novas lideranças jovens indígenas que estão surgindo, a necessidade dos jovens se unirem e cobrar políticas públicas.


 


Cacique Isac (Hãpe na língua Pataxó) lembrou que o encontro é um caminho para a mudança que queremos, que é possível mudar o mundo, mas para que haja essa mudança é preciso empenho e união de todos: negros, índios, sociedade.


 


Douglas Krenak ressaltou que “a juventude mora dentro de cada um de nós. Uma prova do movimento de juventude é o COPIMG – Conselho dos Povos Indígenas de Minas Gerais”, onde a maioria é composta por jovens.


 


Nos depoimentos de experiência concreta da juventude, Babau – Cacique Tupinambá, relatou a história do seu povo, a aproximação e integração dos jovens de sua aldeia, e a batalha travada com o Estado: “Os jovens mostraram que o povo Tupinambá não se adapta para sobreviver, morre por lutar pela terra e continua lutando quando vai para a terra dos encantados”.


 


Elizamar Xacriabá falou das dificuldades que o seu povo encontrou ao querer sair da cidade e ir para o campo. Disse que os jovens não querem a cidade, se sentem aprisionados. 


 


Fernando (integrante do movimento Brigada Indígena do Espírito Santo), disse que a Brigada é um movimento com aproximadamente 300 participantes, a maioria jovem, que lutam pela causa indígena no Espírito Santo. Ele denunciou o desrespeito da Aracruz Celulose com os índios daquela região.


 


Na parte da tarde os presentes dividiram-se em grupos que discutiram as seguintes temáticas (em paralelo aconteceu a oficina para crianças):


01-  Luta pela terra e afirmação dos direitos indígenas


02-  Água e Meio Ambiente


03-  Espiritualidade


04-  Educação com espaço de transformação


05-  Inclusão e Cidadania


06-  Arte e Cultura


07-  Movimento Indígena


08-  Mudanças e Identidades


09-  Afetividade e Sexualidade


 


 


A noite foi esquentada por uma grande fogueira, regada por troca de saberes, experiências e lutas.


 


No sábado, pela parte da manhã, houve a partilha das discussões realizadas nos grupos temáticos, muita pintura, artesanatos e alegria. Houve ainda a construção coletiva do painel “O Brasil que queremos”, onde colocamos numa imensa bandeira branca os nossos sonhos. Essa bandeira irá percorrer cada aldeia a fim de que cada povo expresse ali seus sentimentos.


 


Na parte da tarde, na aldeia Imbiruçu, houve celebração e batismo de pequeninos Pataxó. Á noite muito forró, churrasco e conversa fiada.


 


Do encontro resultou uma carta de compromisso. Encontros como esse são importantes, e devem estar sempre em debate – foi o sentimento de todos.


 


O CEDEFES esteve presente registrando, documentando e contribuindo para a preservação da memória social destes povos.


 

Fonte: Ana Paula de Oliveira - Cedefes
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