11/10/2006

Notas de pesar pelo falecimento de Maninha


 


NOTA da COIAB


Falece Maninha Xucuru,  vítima de enfarto


 


A Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) e o Fórum em Defesa dos Direitos Indígenas (FDDI), receberam com muito pesar a notícia do falecimento, em decorrência de um enfarto,  da líder indígena Etelvina Santana da Silva, mais conhecida como Maninha Xucurú, ocorrido na manhã desta quarta-feira, 11 de outubro, em Palmeira dos Índios, Estado de Alagoas.


 


A Coiab e o FDDI, consternados, lamentam esta irreparável perda para o movimento indígena nacional, uma vez que Maninha Xucuru-Cariri foi, até seus últimos dias de vida, uma aguerrida batalhadora em prol dos direitos de seu povo, dos povos indígenas do Nordeste e do Brasil inteiro. No início da década dos anos 90, Maninha presidiu a Comissão Indígena Leste-Nordeste; depois, em 1994, promoveu, junto com outras lideranças, a criação da Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme), da qual foi coordenadora até o ano de 2005.


 


Esta trajetória a fez merecedora de fazer parte da lista de 52 brasileiras indicadas pelo Comitê do Movimento Mil Mulheres para o Prêmio Nobel da Paz 2005, junto a outras lideranças como Joênia Batista de Carvalho/Wapichana, Eliane Potiguara e Zenilda Maria de Araújo/Xucuru de Ororubá.


 


Brasília, 11 de outubro de 2006.


NOTA DA ANAÌ


Amig@s,


 


Em Maninha a Anaí acaba de perder uma amiga e aliada das mais importantes em nossa ação e em nosso aprendizado de indigenismo.


 


Maninha, com suas primas Quitéria (infelizmente também prematuramente falecida) e Graciliana, inauguraram, de maneiras diferentes, uma nova geração de valorosas e combativas jovens lideranças femininas dos Xucuru Cariri e dos índios do Nordeste.


 


Maninha em especial, foi figura decisiva em todo o processo de formação da Apoinme (Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas e Espírito Santo), de 1990 a 1995, e em seguida, com a consolidação da Apoinme, foi a figura de referência para a coordenação e para a autoridade moral da instituição de 1995 a 2005.


 


Nesses quinze anos, Maninha sacrificou muito de sua vida pessoal pela construção da instituição que é hoje um baluarte e um marco de independência na luta dos povos indígenas do Nordeste do Brasil.


 


Sob a liderança de Maninha e da Apoinme, os povos indígenas do Nordeste chegaram pela primeira vez a uma posição histórica de vanguarda na luta dos povos indígenas no Brasil; conquistando o profundo respeito de ” parentes” de outras regiões, de parceiros indigenistas e mesmo de instituições governamentais. Uma posição e um legado dos quais certamente não mais se arredarão!


 


Ao deixar a coordenação da Apoinme em sua mais recente assembléia em 2005, Maninha pretendia se dedicar mais a um projeto de formação superior longamente adiado, e a voltar a viver em sua querida aldeia sagrada da Mata da Cafurna, que, com o seu pai Antonio e outras famílias xucuru-cariri, ajudou a reconquistar e a refundar ainda na década de 1980, no início de sua carreira de lutas.


 


Desde então, Maninha foi também uma figura de referência na luta do povo Xucuru-Cariri pela reconquista e demarcação de suas terras, em incontáveis gestões junto aos órgãos oficiais, no acompanhamento direto aos muitos grupos de trabalho que se têm sucedido nessa tarefa e, principalmente, nas constantes injeções de ânimo e de coragem à frente
do seu povo!


 


Infelizmente, Maninha agora nos deixa sem que esse processo se tenha concluído, vitimado e paralizado, nas gavetas oficiais, pelo inominável boicote da atual gestão da Funai aos processos de regularização de terras indígenas no Brasil, em especial às terras indígenas no Nordeste; não por coincidência as que abrigam líderes e organizações que, como Maninha e a Apoinme, lhe têm feito mais renhida e corajosa oposição crítica.


 


Por tudo que representam as lutas indígenas no Brasil de hoje, o exemplo de coragem, firmeza ética, independência e perseverança de Maninha decerto seguirá guiando os passos e as vitórias do povo Xucuru Cariri e do movimento indígena no Nordeste e no Brasil.


 


Com muito pesar e renovada esperança,


 


Guga Sampaio


Coordenador Executivo


ANAÍ – Associação Nacional de Ação Indigenista


 

Fonte: Entidades
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