Informe no. 734: Os Kayabi tentam voltar para sua terra Batelão, mas encontram jagunços no caminho
– Os Kayabi tentam voltar para sua terra Batelão, mas encontram jagunços no caminho
– Mulheres Pataxó se aproximam da luta pela terra no Extremo Sul da Bahia
Os Kayabi tentam voltar para sua terra Batelão, mas encontram jagunços no caminho
Em 15 de setembro, 11 lideranças do povo Kayabi saíram de barco para uma viagem de cinco dias pelo rio do Peixe, com destino à terra Batelão, de onde foram retirados em 1966 para serem levados a viver no Parque Indígena do Xingu. As lideranças querem poder voltar a sua terra tradicional, onde viveram por muitos anos e onde estão seus cemitérios, locais de pesca e de obtenção de urucum. Segundo os Kayabi, apesar de o rio dos Peixes estar poluído, ainda há muita caça e peixe na terra.
Mas o grupo não chegou à terra porque, ao alcançarem a ponte que está na entrada do local da terra Batelão, já eram aguardados por cerca de 30 pessoas, entre elas o presidente da associação do fazendeiros do Vale do Rio dos Peixes, jagunços e dois policiais. Segundo o relato das lideranças Turapan, Faustino e Kanísio Kayabi, que denunciaram a situação ao Ministério Público Federal em 25 de setembro, os policiais perguntaram quem era o responsável pela expedição e se Funai estava mandando os índios. De acordo com os Kayabi, eles foram avisados pelos fazendeiros que havia diversos jagunços na região e que não seria seguro continuarem sua viagem até a terra Batelão.
Esta terra está identificada pela Funai desde 2003. Após a publicação do relatório, o Ministério da Justiça solicitou novas diligências ao órgão. Mais de dois anos se passaram, sem que a situação tenha sido concluída.
Segundo relato dos indígenas, um dos argumentos usados pelos fazendeiros para impedir o acesso deles à terra teria sido o de que a área ainda está em estudo e que, por isso, não podia ser ocupada pelos indígenas. Ficou marcada para 5 de outubro uma reunião com fazendeiros, Funai e índios na aldeia Tatuí, na terra Apiacá/Kayabi. O MPF comprometeu-se também a tomar medidas a seu alcance para contribuir com a resolução da questão da terra o mais rápido possível.
Desaparecido – dois dos indígenas da expedição não aceitaram passar a noite acampados, por medo de serem agredidos, e decidiram retornar à pé para a aldeia Tatuí. Até agora, no entanto, a dupla não chegou à aldeia. Na reunião com o MPF, as lideranças pediram à Funai que localize as duas pessoAS.
MULHERES PATAXÓ SE APROXIMAM DA LUTA PELA TERRA
“A gente sentiu a necessidade de engajar mais a mulher na luta”, afirma Katiane Soares Santos, do povo Pataxó, ao explicar por que cerca de 150 mulheres de seu povo participaram do I Encontro de Mulheres Pataxó do Extremo Sul da Bahia, realizado em Cumuruxatiba, município de Prado, de 21 a 23 de setembro de 2006.
Nas discussões, as mulheres reafirmaram a importância da luta pela terra para a garantia de uma vida digna para seu povo. “As dificuldades na luta pela terra influem na educação, por exemplo. A prefeitura diz que não pode construir escola ou posto de saúde porque a terra não é demarcada. E os alunos continuam tendo aula na casa de fazer farinha, ou em escolas de barro que tem paredes caindo”, diz a liderança.
A segurança alimentar das comunidades foi outro dos temas abordados pelas mulheres. Elas irão, a partir de agora, buscar viabilizar programas e projetos de auto-sustentação e de segurança alimentar nas aldeias. Elas afirmam que isso é importante principalmente nas aldeias cujo território ainda não foi demarcado, onde, sem espaço, é mais complicado produzir.
Segurança nas aldeias contra ameaças que recebem as lideranças ligadas à luta pela terra, zoneamento do plantio do eucalipto fora das terras indígenas “respeitando uma distancia mínima necessária das aldeias para garantir a biodiversidade da Mata Atlântica e o livre acesso as comunidades”, estrutura e verbas para saúde e para educação foram outras das solicitações do encontro, onde foi redigida uma carta a ser enviada à Presidência da República, do Ministério Publico Federal e ao Ministério da Justiça. Veja aqui o documento