21/09/2006

Despedida de Dom Franco – adeus emocionado


 


Milhares de rostos emocionados, gente do povo,  não conseguiam reprimir as lágrimas, diante do amigo  que lhes dispensou tanto carinho, amor, apoio e compreensão.  Elas acompanharam D. Franco na sua última visita aos lugares  por onde ele mais andou.


 


Pelas ruas estreitas de Balsas, a caminhada, a memória, o silêncio, o reconhecimento, a gratidão.  Por onde passava a multidão seguindo D. Franco, olhares curiosos, e despedidas atentas à grande pessoa que a cidade e seu povo não  esquecerão.


 


Balsas parou para   ver e  dar passagem à ultima  visita.  Inúmeras  da região e representantes de diversos lugares do país e do exterior, o acompanharam numa clara demonstração de carinho a esse grande lutador da  causa dos índios,  negros, empobrecidos,  sem terra, dos ribeirinhos, dos doentes, dos sofredores, dos desprezados, e  explorados. 


 


Passando em frente ao hospital, foram lembrados os inúmeros momentos que Dom Franco aí esteve para ouvir pacientemente os doentes e confortá-los a partir de sua fé e solidariedade. Em frente à radio, foi destacado a valorização e reconhecimento que tinha pelos meios de comunicação, e em particular aquela, na qual tantas vezes transmitiu suas mensagens e pensamentos cheios de esperança e estímulo à vida plena e fraterna. O Seminário era onde depositava  sua esperança de que a mão humana e divina semeavam e faziam crescer espíritos e consciência fortes e decididos para lutar pelo Reino da Justiça e da Verdade. Depois foi a vez de sua última visita à igrejinha de Santo Antonio, ao lado da qual morava e onde costumava celebrar a Eucaristia e os momentos fortes e fracos da vida.  Ali os religiosos, em especial os da diocese, fizeram uma emocionada despedida pedindo a todos o apoio solidário à caminhada desta igreja local, agora acompanhada por D. Franco em sua intercessão junto a Deus. Dali entrou pela última vez na casa em que viveu os últimos dez anos.  Retornando à catedral,   seu corpo repousa para nos acompanhar sua memória e testemunho.


 


Celebrando a dor e a esperança


 


Quase duas dezenas de bispos, inúmeros sacerdotes e representantes de congregações religiosas, de entidades, pastorais, movimentos, organizações populares, representantes dos índios, negros, movimento de mulheres, ribeirinhos, sindicatos, de órgãos do governo municipal, estadual e federal, das comunidades da diocese e da população de Balsas lotaram a Catedral , além do  grande número de pessoas do lado de fora. Todos vieram partilhar seus testemunhos, trazer sua solidariedade e celebrar a esperança além da dor,  demonstrar e retribuir o carinho e amor que receberam de D. Franco.


 


Às nove horas iniciou-se a celebração. Foi anunciada a presença de familiares de D. Franco que haviam chegado da Itália, lembraram modo muito especial e carinhoso a mãe dele, dona Maia, que com seus 95 anos, não pode se fazer presente nesta despedida de seu filho.


 


Palavras e testemunhos destacaram  seu jeito franco de ser,  seu sorriso radiante e amigo,  sua alegria contagiante e jovialidade, seus gestos amigos, sua dedicação incansável,  sua confiança ilimitada nas pessoas, sua sabedoria e agilidade, sua fé inquebrantável no diálogo e no Deus da Vida.


 


“Que Franco no céu nos ajude a ter essa fé apaixonada no Evangelho e na vida”, pediu Dom Xavier.


 


D. Franco além fronteiras


 


Uma das atividades que mais apaixonaram D. Franco foi a missão além Fronteiras. Ele era um exímio conhecedor da dimensão missionária da Igreja e de cada cristão. E não apenas tinha o conhecimento teológico e teórico da missão. Ele foi um missionário que se lançou de corpo e alma para fazer chegar a boa notícia da vida e vida em abundância a um maior número de pessoas neste planeta.


 


Grande missionário da justiça e da solidariedade


 


Na celebração e nos testemunhos foram lembradas inúmeras vezes essa atenção e dedicação especial à dimensão missionária da Igreja. E foi feito um apelo aos senhores bispos presentes para que não descuidassem do projeto de missão além fronteira que D. Franco estava conduzindo com muito zelo, sabedoria e dedicação.


 


Concretamente estava ajudando na preparação de um grupo de missionários que irão no próximo ano para uma igreja local em Moçambique. Dentre os missionários(as) está uma companheira nossa, do Cimi, Raimundinha.


 


 


O batismo indígena de D. Franco


 


Quando a direção do Cimi procurou D. Franco para convidá-lo para candidato à presidência desse organismo da CNBB, ele externou  certa relutância em aceitar o convite argumentando que carecia de maior conhecimento dessa causa, e além disso não existiam comunidades indígenas ( ao menos conhecidas) em sua diocese. Porém, não se negou a aceitar o convite, tendo sido eleito presidente do Cimi em agosto de 1999 e reeleito em agosto de 2003.  Poucos meses depois de eleito recebeu seu batismo na questão indígena ao permanecer junto aos índios e missionários na repressão e violência que sofreram em Cora Vermelha, em abril de 2000.


 


Na noite do dia 18, um grupo do Cimi permaneceu ao lado de D. Franco a noite inteira. Quando amanheceu o dia  um grupo de índios Apinajé, fez sua despedida. Trouxeram para o amigo pão e água, para que em seu destino não passasse fome ou sede. Eles aí representaram os milhares de indígenas do Brasil e de outros paises do continente americano, que tiveram o apoio solidário de D. Franco, nas lutas pelos seus direitos.


 


Os povos indígenas e nós missionários do Cimi somos eternamente gratos a D. Franco pela sua ação corajosa e destemida nesta causa.  E a melhor forma de expressarmos esse sentimento é reafirmando nosso compromisso de luta e testemunho na construção da justiça e de um mundo que respeite e valorize todos os povos e culturas.


 

Egon Heck – Cimi MS – Palmas, 21 de setembro de 2006

Fonte: Cimi
Share this: