17/09/2006

Dom Franco, uma lição de amor

Poucos dias, muitas perdas. O Brasil, a Igreja e os pobres perderam três grandes lutadores, D. Luciano um homem de profundo relacionamento com os pobres; D. Mauro e seu compromisso com os lutadores da terra; D. Franco e sua apaixonada atuação missionária.


 


Três homens de Deus que viveram o mandamento maior, o amor ao próximo. Cada um deles colocou seus talentos a serviço da causa do Reino, doando-se, entregando-se aos irmãos, valorizando a pessoa humana, estando junto aos oprimidos, lutando as pequenas e grandes batalhas, cultivando a solidariedade, alimentando a esperança.


 


Pensar em D. Franco, nesse momento em que a gente não consegue aceitar a idéia da partida e o coração insiste que pode ser um engano, é pensar num homem apaixonado por viver, espalhando otimismo. Ele era uma pessoa amorosa, com um talento raro de instigar-nos a lutar um pouco mais, a crer mais profundamente, a não nos deixar abater, tornando as dificuldades motivações para seguir com mais coragem.


 


Na longa convivência, em momentos de luta e em horas comuns, o que ele imprimiu em nós, de mais precioso, foi a sensação de que uma causa não pode ser assumida senão com paixão, que amar o próximo é envolver-se, comprometer os sentimentos, os sentidos, o espírito, o sonho.  Aprendemos com ele que não há envolvimento que não torne cativo o coração, que não há compromisso sem atolar os pés, sem os calos de seguir em marcha, sem colocar as mãos numa obra comum. E em sua missão D. Franco soube entregar-se, conviver, sentir, sofrer, sonhar com os mais pobres um novo tempo e plantar sementes de vida em abundância.


 


Lembrar D. Franco é reencontrar sua delicada presença, seu solidário abraço, seu fraterno apego aos muitos companheiros de caminhada. Honrar sua memória é, portanto, desejar a vida em plenitude e para todos, mas assumindo a construção dessa vida em ações cotidianas, na oferta diária dos dons que nos foram concedidos, fazendo de cada momento um acontecimento importante na construção de um mundo melhor.


 


Desse homem sereno e forte, guardamos as expressões de carinho em momentos de incerteza, o afetuoso sorriso, o nome de cada companheiro, pronunciado na hora do encontro. D. Franco falava ao coração, instigava a razão, abrandava as reservas ao assumir a luta lado a lado, ombro a ombro.


 


D. Franco, nosso Bispo, Presidente do Cimi e amigo, assumiu a causa indígena como um chamado, celebrou conosco sua inabalável confiança, comungou sonhos de resistência, colocou-se a disposição, ungiu nossa fronte, lavou-nos os pés e a alma tantas vezes, nas atitudes generosas, corajosas, desprendidas. Elevou-nos e nos enviou em missão, para semear palavras e ações de testemunho.


 


Honrar sua memória é seguir na luta, assumindo o diálogo como metodologia, o respeito como princípio de vida, o sorriso como estratégia de convencimento, a generosidade como meio para des-endurecer os corações.


 


Para não esquecer D. Franco e a mensagem que com ele aprendemos, temos que continuar espalhando a Boa Nova, acreditando que a colheita será farta, que a vida será plena, que a terra será partilhada e se cobrirá de grãos para saciar a fome de justiça, a fome de paz, a fome de amor.  Continuar semeando em campos áridos, para ver germinar a ternura, para ver crescer projetos de futuro desses povos oprimidos para quem D. Franco dedicou especial atenção.


 


Seus ensinamentos ficarão em nós como letra impressa, como voz que não se cala, como amor que se entrega para germinar a vida plena.


 


Iara Tatiana Bonin e Roberto Antonio Liebgott


 


Cimi Sul – Equipe Porto Alegre


 

Fonte: Cimi Sul - Equipe Porto Alegre
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