13/09/2006

Povo Xavante reivindica desintrusão da Terra Marãiwatsedé no Mato Grosso

Dois anos após ter retomado a sua terra tradicional, em agosto de 2004, o povo Xavante continua à espera da desintrusão de seu território. A Terra Marãiwatsedé (Suiá-Missú), fica no município de Alto da Boa Vista, no Vale do Araguaia, em Mato Grosso. Em 1993, foi declarada de ocupação tradicional e no dia 11 de dezembro de 1998 foi devidamente homologada, por Decreto presidencial. Até hoje, no entanto, continua invadida. A população de cerca de 600 indígenas continua confinada em uma fazenda de alguns alqueires, numa pequeníssima parte  de seu território.


 


O povo Xavante tinha sido retirado de seu território tradicional em 1966. Entre 2003 e 2004 teve que adotar medidas extremas para reconquistar gradativamente o seu território, acampando durante 10 meses, entre 2003 e 2004, à beira da BR-158. Na ocasião, crianças morreram por desnutrição. Em 2004, o Supremo Tribunal Federal autorizou o retorno do povo à sua terra. 


 


Apesar disso, as condições de vida, a falta de apoio a atividades produtivas e de saneamento básico, o precário atendimento à saúde, o quadro de desnutrição, e a pressão dos fazendeiros e posseiros continuam fazendo parte do sofrimento deste povo.


 


Segundo o antropólogo e colaborador da Associação Böiu Marãiwatsede, Estevão Rafael Fernandes, “os posseiros continuam mobilizados, voltando a abrir picadas e a ocupar maciçamente o território Xavante, sem que haja qualquer manifestação do Estado”. Em efeito, “os posseiros acreditam que a justiça vai rever a decisão e os fazendeiros continuam botando fogo no pasto perto da aldeia, inclusive em áreas de cemitérios Xavante, como aconteceu na segunda semana de agosto”, completa o dirigente da Coordenação Indígena Xavante (Cix) e presidente do Conselho Deliberativo e Fiscal da Coiab, Agnelo Temrité Wadzatsé / Xavante. No entanto, esclarece o líder indígena, “alguns poucos posseiros que estão convivendo com a comunidade indígena, estão cientes de que estão em terra indígena,  e aguardam até hoje a indenização”.


 


O antropólogo Fernandes denuncia ainda: “as cidades no interior da terra indígena crescem, em uma ação articulada pelos fazendeiros da região, que trazem suas famílias de longe para ocuparem a área”. O líder xavante confirma: “os fazendeiros estão convidando mais posseiros para aumentar a população da Vila Posto da Mata, visando a sua emancipação e transformação em município”.


 


Outro problema que ameaça a paz do povo xavante é o plano de asfaltamento da BR-158 numa extensão de 60 quilômetros dentro da terra Marãiwatsede. “O asfaltamento está já a 160 quilômetros da área indígena, no município de Ribeirão Cascalheira, e nosso povo é contra. Faremos de tudo para impedir mais esta agressão ao nosso território”, afirma Agnelo Xavante, que faz questão de lembrar uma declaração emblemática do cacique Damião:


“Esta Terra é nossa, por isso estamos dentro. Os nossos antepassados nos cobram, nos chamam. Estão na natureza que os brancos estão destruindo…”.


 


O povo Xavante da terra Marãiwatsede está se organizando e planejando como reagir para mudar a atual situação gerada pela falta de desintrusão e a ausência ou precariedade das políticas públicas a ele voltadas. De início reivindica das autoridades competentes (Instituto de Colonização e Reforma Agrária –Incra, Fundação Nacional do Índio –Funai e Política Federal -PF) que cumpram a sua responsabilidade de fazer cumprir a lei, desintrusando a terra.

Fonte: Coiab
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