Informe n. 730: Povo Krenak participa da despedida de Dom Luciano
– Povo Krenak participa da despedida de Dom Luciano
– Frente de Resistência e Luta Pataxó seguye lutando por território único
POVO KRENAK PARTICIPA DA DESPEDIDA DE DOM LUCIANO
Durante dois dias, milhares de pessoas foram à cidade histórica de Mariana, Minas Gerais, prestar sua homenagem a Dom Luciano Mendes de Almeida. Arcebispo de Mariana há 19 anos, ele morreu domingo, 27, vítima de câncer no fígado, depois de 42 dias internado. Missionários do Cimi e representantes do povo Krenak, que vive em Resplendor, Minas, estiveram presentes.
Dejanira, líder espiritual Krenak, entoou orações na língua do seu povo, pedindo aos Marets, seus espíritos protetores, para acolher Dom Luciano. Para ela, o bispo era mais que um amigo. A presença de Dom Luciano na intermediação de conflitos foi de grande importância na luta dos Krenak contra a Companhia Vale do Rio Doce e seus empreendimentos em terra indígena. No final da sua oração, Dejanira proclamou: “Para nós ele não morreu, continua vivo em nossa luta!”. Em seguida, as lideranças Krenak entoaram um canto solene, cuja melodia une o mundo espiritual e o mundo dos vivos, levando-os ao lugar onde a terra descansa e o espírito encontra a harmonia.
Cerca de 7mil pessoas participaram da celebração com a presença do corpo, realizada na manhã de ontem, 30, na Praça da Sé. A celebração, presidida pelo Cardeal Dom Geraldo Majella, presidente da CNBB, contou a presença de bispos, padres, autoridades, representantes de pastorais, dos movimentos sociais e do povo da arquidiocese de Mariana.
Nascido no Rio de Janeiro, ordenado em Roma, ele foi bispo auxiliar da diocese de São Paulo. Ali, Dom Luciano teve intensa atuação com moradores em situação de rua e na Pastoral do Menor, da qual foi fundador.
Ele mantinha as portas de sua residência abertas aos moradores de rua da Zona Leste da cidade, tanto que saía para conversar com eles madrugada adentro, caminhando na praça, escutando suas dores e esperanças.
Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil do Brasil (CNBB) entre 1987 e 1994, Dom Luciano teve atuação decisiva em todo o processo da Constituinte, particularmente na defesa dos direitos dos povos indígenas. Também atuou na defesa do Cimi das acusações do jornal O Estado de S.Paulo. Em 1987, para influenciar contra os direitos indígenas na Constituinte, o jornal publicou “reportagens”, eivadas de calúnias e mentiras, sobre a suposta atuação de missões religiosas como fachada de interesses de mineradoras estrangeiras. Após seis dias de matérias que acusavam diretamente o Cimi, e através da atuação da CNBB, o jornal foi obrigado pela Justiça a publicar o direito de resposta da entidade.
Entre tantas contribuições, o bispo deixa também belas falas. “Quem é amado leva em si mesmo a vontade misteriosa de sair do próprio egoísmo e de experimentar a alegria de amar os outros com gratuidade” é uma delas. (de Luciano Marcos, Cimi Leste)
FRENTE DE RESISTÊNCIA E LUTA PATAXÓ SEGUE LUTANDO POR TERRITÓRIO ÚNICO
A Frente de Resistência e Luta Pataxó, que articula a luta pela terra de 12 comunidades Pataxó no Sul da Bahia, realizou sua 5a. Assembléia entre 18 e 20 de agosto. Eles seguem lutando pela demarcação de um território único para seu povo, e afirmam, no documento final do encontro: “Só aceitaremos a proposta de ampliação das unidades de conservação após a demarcação do nosso território, para evitar a sobreposição dessas unidades em nossas terras”.
Eles buscam também o fim do plantio de eucalipto em terras de ocupação tradicional indígena que se encontram sob o domínio da empresa Veracel Celulose. Segundo as comunidades, a empresa “continua agredindo o nosso meio ambiente”.
Em termos de políticas de educação, os Pataxó pedem o cumprimento das leis que garantem educação especifica e de qualidade, como também a efetivação dos educadores indígenas e seus direitos trabalhistas
Brasília, 31 de agosto de 2006
Conselho Indigenista Missionário
www.cimi.org.br