30/08/2006

EM MEMÓRIA DE DOM LUCIANO

Nesta hora em Mariana, está acontecendo a celebração de despedida de nosso grande amigo DOM LUCIANO. Estamos espiritualmente unidos a Ele nesta sua Páscoa.


 


Mesmo na tristeza e na saudade, louvamos a Deus pela passagem bondosa e generosa de Dom Luciano no meio de nós, pelo seu compromisso corajoso em favor da causa indígena, pela sua amizade. A ele nossa homenagem e nossa eterna gratidão.


Em outras religiões a morte é apresentada como a cura definitiva das doenças da vida.


 


Para nós cristãos, a morte é algo ilegítimo, uma mancha no quadro maravilhoso da criação. É fruto do pecado que estragou a natureza humana. Deus só planejou a vida, não a morte. Por isso Jesus veio a este mundo para derrotar a morte!


 


“Eu sou a Ressurreição e a Vida. Quem acredita em mim, mesmo que morra, viverá”. (Jo 11,25)“A morte foi tragada pela vitória. Onde está, ó morte, a sua vitória? Onde está, ó morte, o seu ferrão?” (1Cor 15,55)


 


A morte perdeu o seu aguilhão, como uma serpente cujo veneno só é capaz agora de adormecer a vítima por algum tempo, sem poder matá-la. A morte já não é um muro diante do  qual tudo se rompe, mas tornou-se uma porta, uma passagem, uma “Páscoa”, um “Mar Vermelho” graças ao qual se entra na terra prometida.


 


A verdadeira morte acontece quando colocamos a nossa esperança e o sentido de nossa vida na posse, no poder, no prazer desregrado, quando fechamos o nosso coração ao próximo e nos deixamos levar pelo egoísmo. A verdadeira morte é quando temos medo de perder nossa vida por causa de Jesus e do Evangelho (cf Mt 8,35). Por isso Dom Luciano não morreu.


 


Dizia Pe. Antônio Vieira: “No nascimento somos filhos de nossos pais, na ressurreição somos filhos de nossas obras”. As boas obras, as obras do amor são o que conta. A vida de Dom Luciano foi uma grande caminhada de amor, cheia de boas obras.


 


Ele nasceu no Rio de Janeiro em 05/10/1930, foi ordenado padre em Roma em 05/07/1958. Como jesuíta, trabalhou a serviço de sua ordem religiosa, sobretudo no campo da formação, até sua ordenação episcopal que aconteceu no dia 02/05/1976.


 


Foi Bispo Auxiliar de São Paulo-SP e Responsável pela Pastoral do Menor (1976-1988); Secretário Geral da CNBB por dois mandatos (1979-1986) e Presidente da CNBB, também por dois mandatos (1987-1995); Membro da Comissão Pontifícia Justiça e Paz (1996-2000); Membro da Comissão do Secretariado para o Sínodo (1994-1999); 1º Vice-Presidente do CELAM (1995-1999); Delegado à Assembléia Especial do Sínodo dos Bispos para a América (1997).


 


Dom Luciano foi um Pastor extraordinário por sua inteligência, por seu carinho e fineza, por sua atenção para com todos, por seu amor eclesial, por sua disponibilidade total a fazer o bem.


 


Ele viveu a opção pelos pobres com a coerência de sua vida, com sua constante proximidade aos excluídos, com suas posturas lúcidas e proféticas. Por tudo isso ele entrou na história da nossa Igreja e de nosso país.


 


Lembro as expressões do amor de Deus para com seu povo na experiência mística de Isaías:


 “Não tenha medo porque eu o redimi e o chamei pelo nome: você é meu. Quando você atravessar as águas, eu estarei com você e os rios não o afogarão; quando você passar pelo fogo, não se queimará e a chama não o alcançará, pois eu sou Javé seu Deus, o seu Salvador. Para pagar sua liberdade, eu dei o Egito, a Etiópia e Sabá em troca de você, porque você é precioso para mim, é digno de estima e eu o amo… Não tenha medo porque eu estou com você.” (Is 43,1-5)


 


A força de Dom Luciano em seu serviço de pastor tinha sua base na confiança serena em Deus. Eu pessoalmente percebi isso quando, junto com um meu confrade, fui visitá-lo no Hospital das Clínicas de São Paulo: nos abençoamos reciprocamente e ele me comunicou naquela hora uma profunda paz.


 


Foi de lá que ele enviou esta mensagem:  “Estou nas mãos de Deus. Deus nos criou por amor e Ele sabe o que é melhor para nós. Coloco minha vida nas suas mãos”. A confiança em Deus naquela hora sofrida de doença, o abria sempre mais ao amor pelos outros. Ele dizia:


 


“Não penso só em mim; lembro-me também das muitas vítimas de Beirute, que, infelizmente, vêm aumentando dia a dia, por falta de uma solução que possa dar fim a essa situação. São tantos os sofredores que precisam de cuidados médicos e outros muitos que morreram em conseqüência dos ataques de Israel. Lembro-me ainda dos milhares que sofrem na África. Temos que fazer algo por eles. Uno-me ao Santo Padre pedindo a paz. O mundo requer paz. A violência deve cessar. Será que o mundo não pode abrir os olhos para o drama de milhões de pessoas? Temos que mudar de mentalidade. Somos todos irmãos, feitos por Deus para a felicidade; que o sofrimento de tantas pessoas contribua para o cessar-fogo e a descoberta de um relacionamento humano verdadeiramente amigo. Peço a todos que continuem rezando pelas necessidades da humanidade. Elevemos a Deus os nossos corações. Ele pode nos salvar de toda inimizade e injustiça”.


 


Dom Luciano recorda ao mundo em que Caim continua a matar Abel e o joio quer sufocar o trigo, mas é possível liberar o coração para fazer florescer a VIDA.Ele recorda que é importante entregar-se ao amor porque tudo o mais nos será acrescentado e porque Deus é amor.


 

Dom Franco Masserdotti – Presidente do CIMI

Fonte: Cimi
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