20/07/2006

Informe n° 724

Romeiros renovam compromisso com causas populares


 


A cada cinco anos, milhares de pessoas se encontram no interior do Mato Grosso para realizar uma romaria dedicada à memória daqueles que foram mortos defendendo a vida. É um encontro que celebra causas: a indígenas, a dos negros e negras, mulheres marginalizadas, meninos e meninas de rua, dos operários. Os participantes da caminhada renovam seu compromisso com as lutas pela Vida e pela Justiça. A Romaria dos Mártires da Caminhada foi realizada na cidade de Ribeirão Cascalheira, MT, em 15 e 16 de julho.


 


Familiares de alguns dos indígenas assassinados na luta pela terra participaram da Romaria. Esposa e filhos de Xicão Xikuru e de Galdino Pataxó Hã-Hã-Hãe viajaram desde Pernambuco e da Bahia. Do Mato Grosso estavam presentes José Tiago e Zezinho Bororo, este último baleado no mesmo ato violento de fazendeiros em que gerou a morte de Simão Bororo e do padre Pe. Rodolfo Lunkenbein, em 1976. Também esteve presente de Estevão Taukane, do povo Bakairi, que foi à Romaria pela memória do padre João Bosco Penido Burnier, assassinado há 30 anos por causa do trabalho que desenvolvia com os Bakairi. A Romaria dos Mártires lembrou especialmente os 30 anos do assassinato de Burnier.


 


Na noite do sábado, 15, os indígenas levaram as tochas que acenderam a fogueira da qual saiu o fogo para as velas que iluminaram os seis quilômetros de caminhados pelos 4 mil participantes da Romaria, segundo número da organização do evento.


 


Na manhã de domingo, uma missa campestre teve a participação de Marcos Xukuru. Perguntado por Dom Pedro Casaldáliga sobre que frutos a caminhada deveria produzir, o cacique respondeu:  “Cada um e cada uma deve defender um ideal e lutar pelas causas populares. E levar daqui não só a camiseta, a lembrança, mas que leve dentro do peito a força dada por Tupã e Tamaim. E que possa orar e fazer algo não apenas pelos povos indígenas, mas pelo negros, pelos sem terra. Nós povos indígenas não queremos o Brasil inteiro. Queremos apenas terra para sobreviver neste país pluriétnico e pluricultural”, disse.


 


“Os povos indígenas cresceram em número. Cresceram em consciência. Cresceram em organização. Cresceram em intersolidariedade, do mesmo tronco as várias ramas, e de povo para povo. Inclusive há setores indígenas importantes que têm consciência de Ameríndia, de todo o continente. Já não é a causa de um povo, de uma aldeia, é a causa de um mundo, o mundo indígena”, avaliou Casaldáliga em entrevista a este boletim, ao responder sobre as mudanças que viu nos 30 anos em que esteve à frente da Prelazia, onde ajudou a criar uma Igreja comprometida com a luta do povo indígena, caboclo e ribeirinho, desde a época em que o Mato Grosso começava a ser invadido pelo latifúndio incentivado pela ideologia desenvolvimentista e integracionista.


 


Participaram da Romaria pessoas de todo o Brasil e de países como Nicarágua, Argentina, Itália, Espanha e Alemanha.


 


 


Brasília, 20 de julho de 2006


 


 

Fonte: Cimi – Conselho Indigenista Missionário
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