21/06/2006

A luta da mulheres Kaiowá Guarani

Hoje (21/06) começa mais um momento importante na luta dos Kaiowá Guarani pela conquista de seus direitos, especialmente a terra. Estará se iniciando mais uma Grande Assembléia, a Aty Guasu, desta vez articulada pelas mulheres, e que contará com a participação de representantes do movimento nacional e regional das mulheres indígenas.


A liderança Léia lida com a vida dura e sofrida com o mesmo carinho e determinação de quem parte para a luta cada dia. Ela é professora, mãe, guerreira Kaiowá Guarani. Seu povo está à beira da estrada há seis meses, desde que naquele fatídico dia 15 de dezembro de 2005 tiveram que enfrentar um batalhão armado que veio cumprir a ordem de colocá-los fora de sua terra. Decidiram ficar ali, na beira da estrada, mas em sua terra, na certeza de que o exílio não seria longo. Foi sofrido. Já foram quase duzentos dias sob o sol, chuva e poeira esperando a injustiça passar para voltarem à sua terra.


 


Para selar essa importante etapa de luta de seu povo, convocaram uma Aty Guasu.  Essa não será uma Aty Guasu qualquer. Nela será colocada em destaque a fundamental contribuição das mulheres nestas lutas. Numa observação sobre os processos de luta das retomadas de terra, dizia o antropólogo Celso Aoki: “se a gente olhar para a história de retomada das terras do povo Kaiowá Guarani vamos ver que quem de fato esteve à frente de maneira determinante de quase todas as retomadas de terra  foram as mulheres”.


 


E no caso específico da luta de Nhanderu Marangatu veremos com muita clareza a presença e participação efetiva das mulheres, inclusive liderando de forma sábia e partilhada o processo de resistência durante esse meio ano de beira de estrada. E essa destacada participação das mulheres na luta se dá também a partir de um outro importante referencial que é a escola. Uma “escola formadora de guerreiros”, como dizia um professor Xukuru, que teve papel destacado em praticamente todos os momentos expressivos de luta.


 


Regina parte para as mais de trinta aldeias, para conversar e entregar um convite especial. É o convite para mais uma Aty Guasu desse povo. Porém é uma Assembléia especial, que será coordenada pelas mulheres e terá como objetivo principal resgatar a contribuição das mulheres na luta do povo pelos seus direitos, especialmente à terra, ajudar a diminuir o alto índice de violência a que estão submetidos, e que recai, de modo especial sobre as mulheres, e organizar-se mais e melhor. Quando chega nas aldeias e se dirige aos líderes para deixar o convite, insiste que desta vez a prioridade é da participação das “cunhã” (mulheres).


 


Elda olha com satisfação para o convite e com muito orgulho e determinação assume o compromisso de fazer com que ele chegue às diversas aldeias da região da fronteira com o Paraguai. Ela é uma das integrantes da Comissão Kaiowá Guarani, que tem como objetivo principal articular as lutas desse povo e organizar as grandes Assembléias, como a Aty Guasu.


 


Lucia, antropóloga, que ajudou a organizar o relatório de violência contra os povos indígenas recentemente publicado pelo Cimi, acompanha as longas viagens, vendo e ouvindo as muitas histórias de sofrimento e violências que este povo vive.


 


É um momento importante na luta das mulheres indígenas desse povo. Tempo de fazer avançar a esperança de um novo amanhã.


 

Egon Heck –  Cimi MS – Brasilia, junho de 2006

Fonte: Cimi
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