07/06/2006

Cinco feridos em Porto Lindo, MS

A disputa de poder entre dois grupos indígenas na terra Porto Lindo, em Mato Grosso do Sul, que acontece há anos e intensificou-se na última semana, gerou cinco feridos nos últimos dias:  Adalto Gilarte, 27 anos, Paulo Nunes, 41 anos, Ananias Nunes, 47 anos, Ilário Nunes, 68 anos e Adilson Acosa, 19 anos, foram socorridos hoje, dia 7.


 


O conflito acirrou-se após fechamento de duas estradas: a  MS 386, entre Iguatemi e Japorã, interditada há mais de uma semana, e a BR 163, fechada desde a madrugada de hoje por lideranças de um grupo que se opõe ao primeiro e se juntou a produtores rurais da região. A informação do segundo fechamento é do site Campo Grande News. Segundo a Procuradoria da República em Dourados, a previsão é de que policiais federais se encaminhem para o local, próximo à fronteira entre Brasil e Paraguai.


 


A causa dos conflitos está ligada à questão fundiária e ao processo de confinamento ao qual foram submetidos os Guarani Kaiowá. Porto Lindo é uma terra indígena que foi reservada em 1928 e homologada em 1991, com 1650 hectares, e foram concentradas nesta área comunidades vindas de diversos tekohá (territórios tradicionais), após serem expulsas de suas terras pelas frentes de expansão agropecuária e após a destruição das matas restantes na região. Atualmente, cerca de 4,8 mil pessoas vivem nos 1600 hectares demarcados e em quatro comunidades em terras retomadas, nas aldeias Yvy Katu, Remando, Paloma e Sombrerito. Ao todo, o território reivindicado pelos indígenas soma mais de 9 mil hectares e a terra está em processo de demarcação (colocação dos marcos físicos). 


 


Por 45 anos, a aldeia Porto Lindo esteve sob a chefia de Lucio Villeava. Há cinco anos, uma eleição na aldeia elegeu Agostinho, destituindo a família Villalva. Agostinho acabou sendo assassinado logo depois de eleito. Iniciou-se então um período de turbulência que chega aos dias de hoje.


 


Um fator importante nesta disputa tem sido o posicionamento com relação aos movimentos de retomada de terras. Em janeiro de 2003, quando foram retomados cerca de 9 mil hectares, os integrantes de quatro tekohá participaram diretamente, estabelecendo-se nas novas aldeias de Yvy Katu, Remando, Paloma e Sombrerito. Com isso, houve uma trégua temporária na luta interna pela chefia de Porto Lindo. Porém, agora ela volta com força, em meio ao processo de luta pela regularização da terra.


 


A situação é agravada pela interferência de fazendeiros da região na disputa interna e dos rumores de que pode haver novas retomadas de fazendas, difundidos por pessoas com interesses nas terras.


 


Na noite de ontem houve uma reunião na prefeitura de Japorã, onde índios e sem terra acampados buscam negociar a liberação de barreiras, pois a situação estava começando a ficar difícil, com falta de mercadorias para a população dos municípios próximos.


 


Saiba mais sobre a terra


 


A terra indígena Yvy Katu é localizada no município de Japorã, cone sul do Mato Grosso do Sul, a 472 km de Campo Grande. A terra foi retomada em 2003 pelos Guarani Ñandeva, que expulsaram invasores – fazendeiros e seus arrendatários – que ali plantavam soja em 14 fazendas.


 


Após ameaças de ações de despejo e de inúmeras negociações, os indígenas mantiveram-se em 3 das 14 fazendas retomadas. Mas os processos de reintegração de posse continuaram correndo na justiça.


 


Yvy Katu foi identificada pela Funai com 9.454 hectares. No entanto, antes das retomadas, cerca de 4 mil Guarani-Nhandeva viviam confinados em 1.648 hectares, no pedaço da terra que foi demarcado em 1928 pelo Serviço de Proteção ao Índio (SPI). As retomadas de terra são as formas encontradas pelos povos indígenas para exigir o cumprimento de seus direitos constitucionais e a demarcação de suas terras.


 


 


As rezas da paz e esperança


Relato de missionário do Cimi no Mato Grosso do Sul, no contexto de indígenas na terra Porto Lindo, em Mato Grosso do Sul


 


Há pouco estivemos na aldeia de Yvy Katu. A apreensão e medo estão presentes nas falas, na expressão dos rostos de todos. Fomos até a casa do cacique (rezador) De los Santos Centurion. Já abatido e encurvado pela idade, mas sempre com a mesma serenidade, ele inspirou muita confiança, mas também falou do medo que ronda a todos os Guarani-Kaiowá nesta região de fronteira do Brasil com o Paraguai. Imagens fortes que não são captadas por câmeras ou instrumentos materiais. Só a alma consegue guardar tão fortes imagens. As crianças parecem alheias a todo este drama, e expõem seu sorriso inocente, participando da reza e do ritual. O cacique, além das orações e rituais, abençoou a todos nós ali presentes, prometendo passar a noite toda em oração, pedindo paz e esperança para o seu povo, que está passando por um momento tão difícil. E como expressão concreta de esperança, mostrou os brotos saindo do galho de cedro no altar dos rituais.


 


Iguatemi, MS, 7 de junho de 2006


Egon D. Heck – Cimi MS

Fonte: Cimi
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